Opositor de Maduro morre em sua cela
Advogado do piloto Rodolfo González diz que ele se enforcou em prisão de Caracas, após saber que seria transferido
Governo nega plano de transferência; González foi detido em abril de 2014, acusado de liderar protestos estudantis
Um piloto de avião venezuelano que estava detido por envolvimento nos protestos estudantis do ano passado morreu na cadeia na noite desta sexta-feira (13).
Rodolfo González, 64, cometeu suicídio por enforcamento em sua cela, segundo disse à Folha um de seus advogados, Joel García.
O advogado afirmou que González se matou após ser notificado de que seria transferido nesta sexta do Helicoide, sede do serviço de inteligência, em Caracas, ao centro de detenção comum de Yare, 70 km ao sul da capital.
A socióloga Lisette González, filha do piloto, disse que ele era vítima de intensa pressão psicológica por parte dos agentes de inteligência.
"Falei com ele por telefone na quinta-feira (12). Ele estava muito nervoso com os rumores de que seria transferido, mas nunca imaginamos que chegaria a esse ponto", disse a filha à Folha, na porta do necrotério para onde o corpo foi levado.
O recém-nomeado ministro do Interior, Justiça e Paz, Gustavo González, negou que houvesse planos de transferir o piloto para Yare e disse que o caso será investigado.
Prisões venezuelanas comuns são conhecidas pelas péssimas condições de detenção e por serem dominadas pelo crime organizado, que costuma promover brigas entre presos, encerradas apenas com a morte de um deles.
O advogado Dionel Mendoza, também envolvido no caso, afirmou que o piloto estava sob intenso estresse pela demora do Judiciário em marcar data para o julgamento.
Piloto particular aposentado e agente de viagens, González foi detido pelo serviço de inteligência no dia 26 de abril de 2014, em meio a protestos que resultaram na morte de 43 pessoas, incluindo policiais.
Após ser preso, teve o nome citado em cadeia de rádio e TV pelo presidente Nicolás Maduro, que o acusou de ser um dos líderes da revolta.
González foi indiciado por formação de quadrilha, porte de explosivos e tráfico de armas de fogo. Sua família diz que seu único crime foi dar água e comida aos manifestantes, já que o piloto residia numa área de Caracas onde estudantes acampavam.
A oposição disse que González era um preso político.
O advogado García acusa as autoridades de terem planejado transferir González em resposta ao recente decreto dos EUA que incluiu a Venezuela entre os países considerados ameaças à segurança nacional americana e impôs sanções contra sete autoridades venezuelanas.
Uma das autoridades sancionadas é a promotora Katherine Haringhton, responsável pelas detenções relacionadas aos protestos.