Greve atinge transportes e para parte da Argentina
Dificuldade de locomoção impediu abertura de escolas em Buenos Aires
Trabalhadores querem correção do limite de isenção dos impostos sobre salários, hoje em torno de R$ 4.000
Com ruas desertas, poucas lojas abertas e nenhuma manifestação popular, Buenos Aires passou nesta terça (31) pela quarta greve geral de sindicatos contra o governo Cristina Kirchner.
A paralisação de 24 horas mobilizou principalmente funcionários de transportes (trens, ônibus, metrô e aviões). Partindo ou chegando do Brasil, 28 voos da TAM e da Gol foram cancelados --um mudou de aeroporto.
Bancários, funcionários públicos e lixeiros também pararam. A dificuldade de locomoção impediu que muitas escolas abrissem, mas os sindicatos dos professores não aderiram. Muitas lojas na Florida e em bairros turísticos como Palermo, além de museus e o Zoológico, também não funcionaram.
"Mudamos nossa programação. Íamos à Recoleta, mas vamos ficar pelo Centro mesmo", disse a professora pernambucana Cinara Virgínio, acompanhada de três brasileiros. "Nossa guia nos disse que seria muito difícil até tomar um táxi hoje".
O advogado aposentado Elias Diab, do Rio, também disse que ia ficar perto do hotel, com a esposa, filhas e amigas. "Queríamos passear de trem [à cidade de Tigre], mas nos disseram que não estava funcionando".
IMPOSTO
Os trabalhadores em greve pedem que o governo corrija o limite de isenção do imposto sobre os salários, atualmente em 15.000 pesos (cerca de R$ 4.000). Com a previsão de reajuste nos salários em abril e maio, sindicatos dizem que muitos trabalhadores passarão a contribuir.
Sindicatos e governo divergem da informação sobre o número de contribuintes. O Ministério da Economia fala em 850 mil, cerca de 10% do total de trabalhadores, e os sindicatos, 2 milhões.
Encabeçada por sindicalistas opositores ao governo, como Hugo Moyano, do Partido da Cultura, Educação e Trabalho (CET), a greve também parou outras cidades grandes, como Córdoba e Rosário.
"Foi uma paralisação contundente", disse Moyano, que preside a CGT opositora.
Os sindicalistas dizem que, se não forem ouvidos pelo governo, voltarão a fazer uma greve, dessa vez de 36 horas.
Em discurso no início da noite na cidade de La Matanza, província de Buenos Aires, Cristina Kirchner criticou os manifestantes. "Me dá vergonha que 10% dos trabalhadores mais bem remunerados não deixem os outros 90% irem trabalhar".
Ela disse que "não se pode confundir trabalhadores com alguns dirigentes sindicais" e classificou o protesto como "opositor, não operário".
"Fazem uma greve porque talvez tenham que doar parte do seu salário a outros companheiros, aos aposentados, para a água potável", afirmou Cristina, voltando a entoar seu discurso de divisão social.