Estado Islâmico se aproxima de Damasco
Membros da milícia radical chegam ao campo de refugiados de Yarmouk, a 16 km do palácio presidencial da Síria
Facção recebe reforço de grupo ligado à Al Qaeda; para analistas, EI ainda não tem força para controlar capital
Militantes do Estado Islâmico dominaram nesta quarta-feira (1º) a maior parte do campo de refugiados palestinos de Yarmouk, no primeiro avanço conhecido da milícia radical sobre Damasco, capital da Síria.
Segundo ativistas sírios e membros da Autoridade Nacional Palestina, os extremistas chegaram no início da manhã ao bairro, que fica a 8 km do centro de Damasco e a 16 km do palácio presidencial.
Eles vieram do bairro vizinho de Hajar al-Aswad, com apoio de desertores da Frente al-Nusra, a filial síria da rede terrorista Al Qaeda.
Ao chegar ao campo, entraram em confronto com a brigada palestina Aknaf Beit al-Maqdis e o Exército Livre Sírio, forças moderadas contrárias ao regime do ditador Bashar al-Assad.
O embaixador da Autoridade Nacional Palestina em Damasco, Anwar Abdulhadi, afirma que, após o combate, os milicianos islâmicos passaram a controlar o sul do campo de refugiados, no limite com Hajar al-Aswad.
Nos últimos dias, o Estado Islâmico vem avançando em direção ao sul da Síria e controlou vilarejos das províncias de Homs e Hama.
Enquanto isso, no Iraque, a milícia tem perdido terreno. A última derrota ocorreu em Tikrit, terra natal do ditador Saddam Hussein, retomada pelo Exército iraquiano.
Analistas descartam que a chegada a Yarmouk tenha sido realizada por membros vindos do norte da Síria.
Para Hassan Hassan, os combatentes vieram de células de Damasco.
Coautor do livro "Isis: inside the army of terror" (Estado Islâmico: dentro do Exército do terror), Hassan disse que a milícia tenta há meses entrar na capital, mas que não deverá ser desta vez. "O regime colocou fortes postos de controle e infraestrutura para evitar que quaisquer forças atinjam a Damasco, muito embora eles estejam chegando perto."
O campo de refugiados palestino era dominado por rebeldes moderados entre 2012 e 2014. Assim como em outras áreas da capital síria, o bairro foi destruído por bombardeios do regime sírio e ataques de grupos rebeldes.
Com o conflito, milhares de pessoas saíram da região, fazendo com que a população local fosse reduzida de 150 mil para cerca de 18 mil.
CRISE HUMANITÁRIA
No ano passado, a Autoridade Nacional Palestina fez um acordo com os rebeldes sírios para que se retirassem da região. Isso permitiu que fosse retomada a ajuda humanitária aos palestinos que restaram em Yarmouk.
Com o domínio do Estado Islâmico, a preocupação é que a crise se agrave, dias após a ONU (Organização das Nações Unidas) ser autorizada a entregar mais suprimentos aos refugiados.
Em nota, a Agência da ONU para Refugiados Palestinos pediu o fim do conflitos.