Agentes tomam prefeitura de oposição na Venezuela
Membros do serviço de inteligência entraram no local com armas pesadas
San Cristóbal, capital de Táchira, é bastião de resistência ao chavismo e berço dos protestos de fevereiro de 2014
A prefeita opositora de San Cristóbal, a oeste da Venezuela, se queixou nesta segunda-feira (13) de que fiscais do governo central iniciaram uma auditoria na prefeitura acompanhados de agentes de inteligência munidos de "grandes armas" de fogo.
O caso gerou temores de que a prefeita Patricia de Ceballos poderia ser acusada de conspiração e detida, como aconteceu com seu marido, o ex-prefeito de San Cristóbal Daniel Ceballos, e com o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma.
Segundo comunicado da prefeitura, homens do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) assumiram o controle da prefeitura no início da manhã, enquanto fiscais da Controladoria Geral da República, órgão que monitora a gestão do patrimônio público, se reuniam com a prefeita para notificá-la da auditoria.
Pelos próximos dez dias, uma equipe de nove fiscais irá vasculhar documentos, operações e contas da prefeitura no período iniciado a partir de 2012 até os três primeiros meses deste ano.
Fotos postadas nas redes sociais por testemunhas mostravam agentes do Sebin portando metralhadoras e fuzis nas dependências da prefeitura.
"É desproporcional o uso de organismos de segurança para trazer uma notificação de auditoria", disse Ceballos.
"Uma revisão administrativa da Controladoria [Geral da República] requer funcionários com calculadoras e canetas e sem armas nem excesso de força pública", escreveu a prefeita no Twitter.
Ela ressaltou ter recebido os fiscais com "muito respeito" e "disposição para demonstrar a transparência" da sua gestão.
Apesar do ocorrido, fontes em San Cristóbal disseram à reportagem da Folha que a situação na cidade está calma, apesar da irrupção esporádica de protestos.
BASTIÃO DE RESISTÊNCIA
Não está claro qual a suspeita das autoridades. Mas San Cristóbal, capital do Estado de Táchira, se tornou um dos maiores bastiões de resistência ao presidente socialista Nicolás Maduro.
Foi de San Cristóbal que partiu a onda de violentos protestos estudantis antigoverno que estremeceram parte da Venezuela e resultaram na morte de 43 pessoas, incluindo policiais, no primeiro semestre de 2014.
O então prefeito da cidade e marido de Patricia de Ceballos foi detido em março daquele ano sob acusação de envolvimento nas manifestações. A eleição municipal extraordinária organizada para preencher o cargo foi vencida com folga pela mulher do prefeito.
Os protestos do ano passado também resultaram na prisão do prefeito de San Diego (ao sudeste de Caracas), Enzo Scarano, igualmente destituído do cargo. Scarano já está solto.
Em fevereiro deste ano, o Sebin deteve Antonio Ledezma, prefeito metropolitano de Caracas, que continua atrás das grades, mas não foi formalmente destituído.
Outros oposicionistas, como Leopoldo López, também forma presos. Maduro alega que as manifestações visavam semear o caos para preparar um golpe de Estado.