Cameron terá de apresentar resultados da austeridade
Renda de britânicos ainda é menor do que era antes da crise de 2008
Premiê terá maioria no Parlamento, mas, para analista, pequena vantagem poderá não resistir a cinco anos
A nova era do premiê David Cameron à frente do governo do Reino Unido terá três prioridades: a economia, uma possível separação da União Europeia e a turbulenta relação com os escoceses.
Analistas apontam que, se o Cameron do primeiro mandato esteve focado no corte de gastos públicos, o do segundo governo terá de cumprir a promessa de que a austeridade fiscal vai, enfim, refletir no padrão de vida da população, cuja renda per capita está abaixo do período pré-crise de 2008.
Com a maioria do Parlamento nas mãos do Partido Conservador --331 cadeiras das 650--, o premiê deve ter menos resistências para levar adiante a sua política de austeridade --quer cortar, por exemplo, mais £ 30 bilhões (R$ 138 bilhões) em gastos públicos até 2019.
Os antigos aliados de coalizão, os liberais-democratas, que criaram obstáculos para ajustes no primeiro governo, estão praticamente fora do jogo. Desta vez, ficaram com apenas 8 das 57 cadeiras obtidas em 2010 e não representarão mais constrangimento para Cameron.
Para o professor de ciência política Roger Mortimore, do King's College de Londres, a expectativa é que o novo governo tenha mais facilidade em aprovar propostas sem precisar negociar. "Agora eles não precisam mais buscar parceiros, porque têm maioria", diz.
PEQUENA MAIORIA
Entretanto, Mortimore ressalta que Cameron deve ter cautela no começo, porque 331 votos representam apenas cinco a mais que o mínimo necessário.
"Uma maioria muito pequena pode não sobreviver a um mandato de cinco anos, e eles (conservadores) devem agir com cuidado", destaca.
O David Cameron do segundo mandato terá ainda de garantir a realização do plebiscito sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, outro tema que encontrava resistência na coalizão que havia com os liberais-democratas.
Na última sexta-feira (8), Cameron confirmou a votação, prevista para 2017. A consulta é reação à pressão dos britânicos devido à onda imigratória, vinda sobretudo do Leste Europeu.
Naquele dia, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, mandou um recado ao premiê: "Estou convencido de que não há vida melhor para nenhum país fora da União Europeia".
A promessa do plebiscito sobre a UE afastou Cameron dos líderes europeus, sobretudo da chanceler alemã, Angela Merkel, contrária à saída dos britânicos do bloco.
Ao mesmo tempo em que cuida do imbróglio com os colegas vizinhos, Cameron tem um problema em seu próprio quintal pelos próximos cinco anos: a Escócia.
O SNP (Partido Nacional Escocês), cuja principal bandeira é a independência do território escocês, obteve 56 das 59 destinadas à região no Parlamento em Londres.
O discurso de vitória de Cameron foi de conciliação, em cima da promessa de dar mais autonomia legislativa e fiscal aos escoceses.
O objetivo é minimizar qualquer tipo de movimento para a realização de um novo plebiscito de separação, como o que ocorreu em 2014.