Defesa usou tática de mostrar 'lado bom' de Tsarnaev
Apesar de testemunhas o descreverem como personagem menor, júri não aceitou a versão de influência do irmão
Réu foi descrito por seus advogados como bom amigo e bom aluno, que seguia o irmão 'como um cachorrinho'
Quarenta minutos após as bombas explodirem na chegada da maratona de Boston, em abril de 2013, o taxista Khairullozhon Matanov ligou para seu amigo Tamerlan Tsarnaev e convidou ele e seu irmão Dzhokhar para jantar.
Ele pegou os irmãos e os levou para o Man-O-Salwa, um restaurante de kebab em Somerville, na Grande Boston, onde costumavam jantar.
Segundo o relato de Matanov, enquanto discutiam os atentados, os irmãos não disseram nada que os incriminasse. Imagens dos autores do atentado só viriam à tona três dias após as explosões.
Um mês antes do atentado, Dzhokhar (pronuncia-se "Djahar") brincava com amigos usando fogos de artifício às margens do rio Charles. "Estávamos todos gritando felizes. Dzhokhar pulava entre os fogos", contou Alexa Guevara no tribunal. "Sinto falta da pessoa que conheci."
Durante o julgamento, Dzhokhar permaneceu praticamente impassível. Prestava atenção, olhando para as provas nas telas e mexendo na barba. Com frequência, mexia nos papéis sobre a mesa à sua frente ou sussurrava algo a seus advogados --às vezes parecendo que compartilhava uma piada.
No fim do primeiro dia de julgamento, alguns repórteres chegaram a ver quando ele cumprimentou uma de suas advogadas, Judy Clarke (que defendeu o Unabomber, Ted Kaczynski), batendo os punhos fechados.
Quando entrou no tribunal, caminhava com um ar de superioridade. Quase sempre se sentava entre as advogadas Clarke e Miriam Conrad, que o tratavam quase como mães.
SEM EMPATIA
Ao longo dos depoimentos de vítimas mutiladas e dos familiares de vítimas, porém, o rosto de Dzhokhar não dava sinal de que ele tinha empatia pelo que escutava.
Apenas uma vez seu semblante indiferente mostrou reação --quando sua tia depunha, entre soluços, o estudante secou uma lágrima.
A imagem que a defesa trouxe foi de Dzhokhar, o maconheiro. O desencanado. Um bom amigo e um bom aluno, como disseram testemunhas de defesa. Comparado a seu radicalizado irmão mais velho, a quem Dzhokhar seguia "como um cachorrinho", o réu foi descrito como personagem menor, mais fraco.
A defesa, porém, teve problemas em dissociar a pessoa descrita das ações terríveis que ele admitiu ter cometido.
Havia sempre um abismo entre o Dzhokhar "bacana, divertido, descontraído" que escutava rap e trabalhava com crianças com dificuldades na escola e o autor do ataque, capturado em imagens das câmeras públicas de TV olhando para trás para ver pela última vez as crianças que iria mutilar e matar.
A resposta da defesa foi pontuar a diferença entre os irmãos. "As provas mostram que, se Tamerlan não tivesse liderado, Dzhokhar não teria feito nada", disse o advogado David Bruck. "Não importa o que estivesse em seu computador ou que tipo de música ele escutava."