Novo acordo é melhor que o do Brasil, afirma iraniano
Para embaixador, texto discutido com potências é mais positivo que o de 2010
Grande vantagem das novas propostas, para diplomata, seria manter urânio no país; iraniano elogia abstenção na ONU
O embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh, acompanha as negociações sobre o programa nuclear de seu país com as potências mundiais com uma certeza: as condições agora são "muito melhores" para Teerã do que as acertadas há cinco anos na negociação entre Irã, Brasil e Turquia.
"O primeiro acordo era mais positivo para os países ocidentais", afirma à Folha. Ele diz não haver o que possa ser aproveitado do Acordo de Teerã (2010) no texto que precisa ser finalizado até 30 de junho por Irã e P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha).
Leia trechos da entrevista.
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Folha - O Congresso dos EUA aprovou uma lei que permite aos parlamentares revisar o possível acordo entre Teerã e as potências sobre o programa nuclear do Irã. Isso gera desconfiança sobre o compromisso americano?
Mohammad Ali Ghanezadeh - Estamos avançando, mas se houver alguma mudança, isso vai ser um problema [interno] dos EUA, e eles terão que chegar a uma solução. Apesar da desconfiança histórica que o Irã tem em relação aos EUA, estamos experimentando para ver até onde pode chegar a confiança.
O objetivo da delegação iraniana é alcançar um acordo. Se a negociação não chegar ao final, será culpa dos EUA.
É possível aproveitar algo do que foi acertado por Brasil, Irã e Turquia no Acordo de Teerã?
Não. O primeiro acordo, entre Irã, Brasil e Turquia, era mais positivo para os países ocidentais. Agora, as condições mudaram.
O acordo negociado agora é mais positivo para o Irã?
Sim. Esse acordo é muito positivo. Em 2010, foi acertado que o urânio do Irã deveria ser transferido a outro país, e não havia garantia de que o material, transformado em combustível, voltaria para o país a tempo. Agora [se o acordo for fechado], manteremos o material no Irã e nós mesmos produziremos nosso combustível, o que é muito melhor.
O Brasil poderia ajudar nas negociações com as potências?
O Irã não fez pedido a nenhum país, mas quem quiser ajudar é bem-vindo.
O que significaria para o Irã a retirada de sanções?
É claro que iria aumentar a velocidade de avanço iraniano na área de pesquisa, tecnologia. Mas também, retirando as sanções, os outros países terão uma oportunidade de aproveitar um mercado de 80 milhões de pessoas. Será bom para as duas partes.
O presidente do Iêmen, Abd Rabbo Mansour Hadi, acusa o Irã de apoiar os houthis contra seu governo. Para Teerã, esse governo não é legítimo?
É trabalho dos iemenitas reconhecer um governo ou tirá-lo do poder. Os houthis são um terço da população e têm direitos. A Arábia Saudita, em vez de contribuir para o reconhecimento desses direitos, atacou-os. Somos contra a intervenção de qualquer país. O Irã não tem nenhuma força militar nem consultiva no Iêmen.
O conflito do Iêmen pode alcançar uma escala regional?
Não acho que chegará a um conflito regional. Mas o ataque saudita é um erro estratégico, que aumentará o risco de ação extremista no país.
Como o Irã vê a abstenção do Brasil na votação na ONU sobre violações de direitos humanos em seu país?
Foi um movimento positivo e nós agradecemos. O Brasil começou a entender a realidade da sociedade do Irã, deu um passo à frente baseado em fatos, e não em política.
Leia a entrevista na íntegra
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