Baixas afetam diálogo de Farc e Colômbia
Ex-negociador de paz da guerrilha foi atingido durante bombardeio e chefe militar foi morto pelo Exército
Patrocinadores das conversas de paz, Cuba e Noruega pedem trégua a facção e ao governo colombiano
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciaram nesta quarta-feira (27) que um ex-negociador de paz foi uma das vítimas do bombardeio aéreo que matou 27 guerrilheiros na última quinta-feira (21).
A morte do guerrilheiro conhecido como Jairo Martínez, que participou dos diálogos com o governo em 2014, é a segunda baixa na cúpula da guerrilha em uma semana e deve prejudicar o diálogo iniciado em 2012 com o governo de Juan Manuel Santos.
Segundo Pastor Alape, um dos negociadores das Farc em Cuba, o guerrilheiro morto, cujo nome verdadeiro era Pedro Nel Daza Narváez, estava em "missão de pedagogia de paz" no acampamento atingido pelo bombardeio em Guapí, no sudoeste do país.
"Missão de pedagogia da paz" é como o grupo armado chama a preparação dos combatentes para o fim do conflito colombiano.
Na versão do líder das Farc, alguns dos mortos foram baleados a curta distância e atingidos pelos militares enquanto pediam ajuda.
A acusação foi negada pelo governo colombiano.
Laudos do Instituto de Medicina Legal colombiano mostram que os membros das Farc foram atingidos por bombas atiradas dos aviões e disparos de metralhadoras também feitos do alto.
A morte de Jairo Martínez é considerada pela imprensa colombiana a maior baixa nas Farc desde a morte de Alfonso Cano, então líder da guerrilha, em 2011.
Ele foi chefe de segurança das Farc durante as negociações com o presidente Andrés Pastrana, iniciadas em 1998. O processo foi encerrado em 2002, quando as Farc sequestraram um avião para poder capturar o senador Jorge Eduardo Géchen.
Martínez é um dos acusados pela Justiça de envolvimento na ação. Desde então, participou da entrega de diversos reféns, incluindo o do cinegrafistas francês Roméo Langlois, em 2012.
Na segunda (25), as Farc perderam Román Ruiz, braço direito de Pastor Alape. Ele foi morto em uma ação do Exército em Riosucio (oeste).
O canal de TV RCN informa que nesta ação poderia ter sido morto um terceiro dirigente das Farc, conhecido como Emiro Chaqueto. A informação, porém, não foi confirmada pelas autoridades até a conclusão desta edição.
PREOCUPAÇÃO
Os países patrocinadores das conversas de paz, Cuba e Noruega, expressaram uma "profunda preocupação" com a escalada de violência e pediram trégua aos dois lados. "Fazemos um chamado às partes para que continuem os esforços para seguir avançando nas questões pendentes", disseram os dois governos em comunicado.
A tensão voltou a crescer após um período de calmaria nos combates, que levou o governo a suspender os ataques aéreos em março. A trégua foi rompida em abril, quando as Farc fizeram uma emboscada que deixou 11 militares mortos em um acampamento.
Apesar de qualificarem a situação como difícil, tanto o governo colombiano quanto as Farc apostam na continuidade do processo de paz.
Pastor Alape defendeu o restabelecimento da confiança entre os dois lados da negociação. "Temos que sair desta turbulência para entregar ao povo colombiano um horizonte que nos permita chegar ao acordo final."
Por sua vez, o presidente Juan Manuel Santos pediu às Forças Armadas que mantenham o pulso firme nos combates. "Vamos perseverar, agora que estamos passando por uma tempestade no processo de paz, que espero que seja passageira", disse.