Vídeo da polícia argentina põe em xeque perícia da morte de promotor
Gravação mostra falhas, como agente colocando arma em bidê do banheiro de Alberto Nisman
Alterações na cena do crime comprometem trabalho; laudo apontou suicídio de Nisman, que havia acusado Cristina
Imagens recém-divulgadas do apartamento do promotor argentino Alberto Nisman põem em dúvida a investigação oficial que tenta desvendar o motivo de sua morte.
Nisman apareceu morto após acusar a presidente Cristina Kirchner de se aliar ao Irã para supostamente encobrir os suspeitos de um atentando a bomba em Buenos Aires, em 1994. Quase cinco meses após a sua morte, ainda não se sabe se ele foi vítima de um assassinado ou se suicidou.
Neste domingo (31), o jornalista argentino Jorge Lanata apresentou um vídeo, gravado pela própria Polícia Federal, mostrando uma série de problemas de procedimento dos peritos que trabalharam na noite em que Nisman apareceu morto. Isso sugere que a cena pode ter sofrido interferências que prejudicam a obtenção de provas.
As imagens mostram um técnico limpando com papel higiênico a arma que matou Nisman. Em seguida, ele apoia o revólver e os projéteis sobre o bidê do banheiro, interferindo na cena onde Nisman foi encontrado morto.
A perícia feita nos dias seguintes à morte não conseguiu identificar impressões digitais no revólver. Médicos forenses estavam usando informações sobre as marcas de sangue na arma para descobrir se Nisman teria feito o disparo ou se foi atingido por outra pessoa. Depois da revelação, análises como essa ficam comprometidas.
Há dez dias, uma junta de médicos forenses apresentou um dossiê à promotora Viviana Fein, responsável pela investigação, informando que não acharam elementos para a hipótese de assassinato, defendida pelos peritos da ex-mulher de Nisman, a juíza Sandra Arroyo.
As imagens mostram pessoas circulando pelos cômodos e corredores, sentadas no sofá e até dentro do banheiro. Uma delas era o secretário de segurança de Cristina Kirchner, Sergio Berni.
Ele e Fein mantiveram um diálogo insólito, captado pelo vídeo poucos minutos depois que a promotora chegou ao apartamento de Nisman, por volta de 2h.
Berni sugere à promotora que vá ao banheiro checar se Nisman ainda estaria vivo. Fein responde que estava preocupada com as provas e que estava lendo um bilhete na cozinha do promotor --era uma mensagem deixada pela empregada de Nisman.
Fein afirmou que as provas foram preservadas e que limpar a arma com papel higiênico é um procedimento usual, para verificar o calibre e a numeração do revólver.
COMPUTADOR
Com os problemas na investigação de campo, as atenções do caso se voltam agora ao exame dos equipamentos de informática do promotor.
O "La Nación" noticiou que o computador de Nisman foi acessado naquele domingo, 18 de janeiro, por volta de 20h, horas depois da morte estimada pela perícia. Três pen drives foram conectados ao computador. Ainda não se sabe se arquivos foram copiados ou apagados. A Promotoria está checando se o relógio do computador poderia ter sido manipulado.