EUA dizem ter matado 10 mil terroristas
Estimativa de baixas do Estado Islâmico, feita por subsecretário de Estado, levanta dúvidas de especialistas
Governo americano não divulga vítimas inimigas desde Guerra do Vietnã; facção terrorista tem ganho terreno e adeptos
Quebrando um dos tabus da Defesa americana, o subsecretário de Estado dos EUA Antony Blinken afirmou nesta quarta-feira (3) que "mais de 10 mil combatentes" da facção radical Estado Islâmico (EI) foram mortos desde o início dos bombardeios aéreos no Iraque e na Síria.
"Vimos muitas perdas dentro do Daesh [termo usado para se referir ao grupo radical na Europa e em países árabes] desde o começo desta campanha, mais de 10 mil", disse Blinken em entrevista à rádio France Inter, em Paris.
A declaração levantou dúvidas sobre como o número foi calculado e se, de fato, ele reflete o sucesso da operação.
Blinken substituiu seu chefe, John Kerry, que fraturou o fêmur em acidente de bicicleta no fim de semana, em reunião da coalizão liderada pelos EUA contra o EI.
Estimativa da CIA divulgada em setembro de 2014 estimava em 31,5 mil o número de militantes do Estado Islâmico, o que significaria que os ataques aéreos iniciados há nove meses teriam matado um terço dos militantes do grupo. A facção radical, no entanto, continua ganhando território na região e recrutando combatentes.
Em entrevista à rede NBC News, o analista de segurança Laith Alkhouri rechaçou o número. "O EI está ganhando território, não perdendo."
TRAUMA
Desde a Guerra do Vietnã, os EUA têm como premissa não divulgar saldo de baixas inimigas. À época o governo costumava anunciar o número de mortos como forma de comprovar o sucesso na batalha. O confronto, no entanto, representou uma grande derrota militar para o país.
Em janeiro, o porta-voz do Pentágono John Kirby se recusou a citar o número de mortos do EI no Iraque e na Síria. "Quanto menos combatentes existirem, melhor, mas o objetivo é destruir suas capacidades", disse então. "[O número de mortos] simplesmente não é relevante."
O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, afirmou nesta quarta que não há razões para acreditar que os números estejam errados.
"O governo inundou o Iraque com equipamentos de inteligência, vigilância e reconhecimento para monitorar as condições em terra", disse. "Então há formas de coletarmos estimativas."