México vota hoje sob temor de carteis e descrença de partidos
Sete Estados declararam alerta devido a intimidação do narcotráfico; 70% não confiam nas principais legendas
Renovação total da Câmara e de parte dos governos estaduais serve de teste a Peña Nieto, que perde apoio
O presidente Enrique Peña Nieto tentou, mas não conseguiu evitar que a violência fosse o principal assunto dos mexicanos nas semanas que antecederam as eleições que ocorrem neste domingo (7).
Desde o começo da campanha, houve cinco assassinatos de candidatos por cartéis e 70 episódios de violência entre militantes partidários.
Já o aumento dos efetivos policiais e militares em Estados conflagrados levou a massacres como o de Tanhuato, em Michoacán, quando 42 civis e um policial morreram.
Segundo pesquisa do Centro de Estudios Sociales y de Opinión Pública, 70% dos mexicanos não confiam nos três partidos majoritários.
Na votação deste domingo, o México renova a totalidade das cadeiras (500) da Câmara dos Deputados e elege nove governadores, 17 legislaturas estatais e 300 prefeitos.
Historicamente, as eleições de meio de mandato são um termômetro da popularidade dos presidentes mexicanos.
Peña Nieto, cuja aprovação caiu de 50% a 39% em um ano, tem anunciado novos investimentos estrangeiros no país, além de acordos internacionais como os que firmou com o Brasil na visita da presidente Dilma Rousseff.
A tática é atrair o foco para o bom desempenho econômico do país, cuja projeção de crescimento para 2015 é de 3,5%, acima da média da região. Porém, para analistas ouvidos pela Folha, as acusações de corrupção que apontam para a cúpula do governo e a ineficácia na mortífera guerra entre Exército e narcotráfico falam mais alto.
Espera-se que 50% do eleitorado se abstenha (o voto é facultativo). Segundo pesquisa do grupo Mitofsky, o PRI continuará o partido mais bem representado no Congresso, mas terá menos vagas e precisará negociar maioria.
"O racha da oposição e a força histórica do PRI farão com que o partido ainda seja a maior bancada, apesar do desgaste", diz o analista político Carlos Petersen.
A campanha pela abstenção espalhou-se pelas redes sociais com a hashtag "#novotoynomecallo" (não voto e não me calo"). Pelas ruas da Cidade do México, pichações e cartazes dizem "Quem quer que ganhe, você perde".
Um dos líderes é o poeta Javier Sicília, que teve um filho morto pelo narcotráfico. "Não questiono o sistema eleitoral, mas sim seus jogadores".
REFORMA POLÍTICA
A eleição deste ano traz uma novidade, após a aprovação de uma reforma política que permite que concorram candidatos sem partido.
O caso mais midiático é o do palhaço Lagrimita, que disputa a prefeitura de Guadalajara. Mas o que tem mais chances é Jaime Rodriguez, favorito ao governo de Nuevo León, importante pólo econômico e estratégico na fronteira com os EUA.
Sua vitória pode apontar uma tendência para as eleições presidenciais de 2018, a alternativa aos grandes partidos. "É um direito cidadão, e abre oportunidades para que independentes entrem na política", diz o analista José Antonio Crespo.
ALERTA
Tropas federais foram enviadas a sete Estados em alerta contra ações de pressão dos cartéis em favor de determinados candidatos. Os mais conflagrados são Michoacán, Oaxaca, Tamaulipas e Guerrero --onde desapareceram os 43 estudantes da escola Ayotzinapa e dois candidatos a prefeito foram mortos.