Cristina busca melhorar imagem ao lado do papa
Ao visitar Francisco, neste domingo, líder quer projeção para além do mandato
Com pleito presidencial em outubro, pontífice tem evitado encontros com conterrâneos e não irá à Argentina este ano
O papa Francisco não é apenas um líder religioso na Argentina. É uma referência política, fonte de popularidade que as autoridades de seu país natal costumam buscar para fortalecer sua imagem.
Em um momento crucial da política do país, quando os partidos costuram alianças para a eleição presidencial de outubro, Cristina Kirchner será recebida por Francisco neste domingo (7), no Vaticano.
O anúncio da visita, confirmada em abril, provocou queixas da oposição e foi comemorada pelos governistas.
Cristina busca apertar a mão de Francisco com o desejo de se projetar como líder política para além do fim de seu mandato, em dezembro, afirma o jornalista Sergio Rubin, biógrafo de Francisco.
"A visita ajuda Cristina a melhorar sua imagem como liderança política", afirma.
A presidente já visitou o papa outras quatro vezes desde que ele assumiu o mais alto posto na Igreja Católica.
Em duas ocasiões (no Rio e em Roma, em 2013), levou a tiracolo aliados que desejava impulsionar. A foto da presidente com o então candidato a deputado Martín Insaurralde, ambos ao lado de Francisco, virou cartaz de campanha política daquele ano.
MENOS EXPOSIÇÃO
Com as eleições neste ano, o papa parece ter preferido evitar os conterrâneos. Ao jornal "A Voz do Povo", ele disse que mandou cortar a recepção aos políticos. "Me dei conta de que alguns me usavam [politicamente]."
Estaria aí a explicação de por que Francisco não visitará a Argentina em 2015.
Em sua segunda viagem à América do Sul desde que assumiu a igreja, há dois anos, o papa visitará apenas Equador, Bolívia e Paraguai.
Nesta sexta (5), avisou à presidente chilena, Michelle Bachelet, a quem recebeu no Vaticano, que deverá visitar Chile, Argentina e Uruguai só no segundo semestre de 2016.
"O papa quer se manter distante da política argentina", afirma Rubin.
Tal qual ocorreu quando o pontífice foi ao Brasil, porém, ele poderá receber a visita de políticos argentinos durante sua jornada no continente, marcada para julho.
"Todos querem tirar uma foto com o papa", diz o analista político Hugo Haime.
Ele pondera, contudo, que nem sempre o resultado é positivo nas urnas. "Martín Insaurralde não foi eleito. Todos querem dizer que têm boa relação com o papa, mas isso não pesa no voto", diz o analista, autor do livro "Que Tenemos en la Cabeza Cuando Votamos" (O que temos na cabeça quando votamos).
Recentemente, o candidato à Corte Suprema Roberto Carlés foi ao Vaticano em uma derradeira tentativa para conseguir a vaga. Mas a bênção ainda não teve efeito.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que enfrenta uma grave crise política, cancelou uma visita que faria ao papa neste domingo, alegando problemas médicos.
Por via das dúvidas, Daniel Scioli, candidato à Presidência argentina pela Frente para a Vitória, e Mauricio Macri, candidato pelo Proposta Republicana (PRO), já têm as suas fotos --ambas tiradas em 2013. Nessa disputa, Scioli está na frente. Ele encontrou o papa duas vezes: no Vaticano e no Rio.