Itamaraty cita 'atos inaceitáveis' e cobra explicações de Caracas
Nota é divulgada a pedido de Dilma, que se irritou com caso, mas viu 'viés político' de senadores
Ministério evita falar sobre eventual ação orquestrada de Maduro; oposição no Congresso faz forte cobrança
O Itamaraty divulgou nota na noite desta quinta-feira (18) em que "lamenta" os "inaceitáveis atos hostis" de manifestantes contrários à comitiva de senadores brasileiros em Caracas e afirma que pedirá ao governo venezuelano "os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido".
O ministério não se posicionou sobre possível ação orquestrada do governo de Nicolás Maduro para impedir a livre circulação dos parlamentares. Limitou-se a dizer que "os veículos ficaram retidos no caminho devido a um grande congestionamento", atribuindo o trânsito à transferência de um preso extraditado da Colômbia.
A nota foi divulgada a pedido da presidente Dilma Rousseff, que orientou o chanceler Mauro Vieira para que o Itamaraty falasse em nome do governo. O episódio irritou Dilma, que conversou várias vezes ao longo do dia com Vieira.
Segundo assessores, ela viu "viés político" na viagem liderada pelos tucanos Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes Ferreira (SP).
Ao longo do dia, o governo sofreu forte cobrança do Congresso para tomar uma atitude em relação à comitiva.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ligou para Dilma e ouviu dela que o governo estava tomando "providências", sem especificar que medidas iria adotar.
Na conversa, segundo assessores, Renan leu nota divulgada por ele em que condenava "gestos de intolerância" e disse que as democracias não podem admitir "manifestações incivilizadas e medievais".
O senador também cobrou providências do ministro das Relações Exteriores, com quem também falou por telefone, e disse que os gestos de intolerância não podem ser aceitos pelo Congresso.
Líder do governo, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) pediu cautela a Renan e afirmou que as informações sobre a situação dos senadores eram "desencontradas".
Na Câmara, os deputados aprovaram uma moção de repúdio ao tratamento dado pelo governo da Venezuela aos senadores.
Os parlamentares da oposição instaram o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a encerrar os trabalhos do dia como forma de protesto.
Eles formaram uma comissão para conversar com Mauro Vieira e cobraram explicações do Planalto. Inicialmente, Cunha disse que manteria os trabalhos. Mas, diante do acirramento de ânimos, decidiu adiar para a semana que vem a pauta do dia.