Capriles cobra Dilma, mas vê nova posição do Brasil
Líder opositor da Venezuela diz que relação com governo brasileiro melhorou
Governador de Miranda afirma que bloqueio a senadores do Brasil na última quinta foi ordem direta da gestão Maduro
Governador do Estado de Miranda, que abriga Caracas, e candidato derrotado duas vezes à Presidência venezuelana, o opositor Henrique Capriles vê mudança na posição do Brasil sobre o governo do presidente Nicolás Maduro.
Em entrevista à Folha nesta sexta, Capriles revelou que só pôde participar de um encontro com chanceleres da Unasul, em março, porque o Brasil pressionou o governo. Ele diz que, há quatro anos, nem sequer era recebido pela embaixada brasileira.
Mas exigiu que a presidente Dilma Rousseff eleve o tom para condenar o episódio desta quinta, no qual um comboio de senadores brasileiros foi hostilizado por manifestantes e impedido de visitar presos políticos em Caracas.
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Folha - Como vê o episódio dos senadores brasileiros?
Henrique Capriles - É a cara do governo mandar pessoas gritarem contra adversários. Mas, desta vez, passou dos limites. Foi absurdo impedir que a delegação pudesse chegar a Caracas. Sinto vergonha.
A delegação, aliás, veio num avião da FAB, o que mostra como funcionam as instituições no Brasil. Aqui seria impossível que parlamentares opositores viajassem num avião da Força Aérea.
O senhor não tem dúvida de que foi orquestrado?
Ordem direta do governo. Havia grupos espontâneos no início dos anos 2000, quando os seguidores do [então presidente Hugo] Chávez eram muitos, e as pessoas se mobilizavam. Este governo não mobiliza ninguém espontaneamente. A estrada foi bloqueada com cumplicidade da segurança do Estado.
O senhor vê inflexão do Brasil em relação à Venezuela?
Há quatro anos, era impossível falar com o embaixador do Brasil. Ele tinha ordem para não falar com a oposição.
[Após os protestos de 2014], todos os chanceleres da Unasul vieram a Caracas. Ao fim da reunião, o então chanceler Luiz Alberto Figueiredo disse que havia sido instruído pela presidente Dilma a conversar a sós comigo. Apresentei a situação para que ela não tenha só a versão do governo.
Na última reunião de chanceleres e oposição, em março, o governo vetou minha participação. Sabe quem me pôs lá dentro? O Brasil. Há ou não há uma visão diferente?
Mas, diante de uma situação como a de ontem, pedimos que Dilma eleve o tom não só sobre o ocorrido [dos senadores], mas sobre tudo o que acontece na Venezuela.