França afirma que espionar líderes é atitude 'inaceitável'
Ministério das Relações Exteriores francês convocou o embaixador americano para prestar esclarecimentos
Deputados aprovam por expressiva maioria texto que amplia poder de vigilância antiterror de órgãos franceses
O governo da França considerou "inaceitável" o fato de a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) ter espionado, pelo menos entre 2006 e maio de 2012, os três últimos presidentes franceses --Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande.
A informação foi divulgada na terça (23) pelo jornal "Libération" e pelo site francês Mediapart.
O porta-voz do governo, Stéphane Le Foll, afirmou que a espionagem "não é aceitável nem compreensível", pois "França e EUA são aliados frequentes no mundo em nome da democracia e da liberdade".
Nesta quarta (24), o Ministério das Relações Exteriores convocou o embaixador americano em Paris para esclarecimentos sobre o assunto.
O governo francês deve também enviar um coordenador de inteligência aos EUA nos próximos dias.
"A França não aceitará ações que ameacem a sua segurança e a proteção de seus interesses", disse em comunicado nesta quarta o gabinete do presidente Hollande após reunião de emergência do Conselho de Defesa, formado por ministros e comandantes das Forças Armadas.
O gabinete afirma que não é a primeira vez que surgem acusações de espionagem sobre a França e que as "autoridades americanas haviam adotado compromissos" que "devem ser reafirmados e estritamente respeitados".
Segundo a agência Reuters, autoridades dos EUA e da Europa consideram a possibilidade de que outra pessoa, e não o ex-agente da NSA Edward Snowden, esteja fornecendo informações secretas ao WikiLeaks.
COINCIDÊNCIA
Aparentemente, a publicação dos documentos que evidenciam a espionagem foi programada para coincidir com a votação no Parlamento, nesta quarta, de um projeto que amplia os poderes de espionagem das autoridades do país.
O projeto foi aprovado pela ampla maioria dos deputados presentes. O texto irá agora para o Conselho Constitucional francês, a pedido de Hollande, que será responsável pela sanção final.
Após as revelações da espionagem, os EUA afirmaram que não monitoram o presidente Hollande e que não visam monitorá-lo no futuro, mas não se manifestaram sobre seus dois antecessores mais próximos.
"Não temos como objetivo e não teremos como objetivo as comunicações do presidente Hollande", afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, ligado à Casa Branca.