Papa privilegia os pobres em visita à região
Na próxima semana, Francisco vai a Equador, Bolívia e Paraguai, três dos países mais periféricos da América do Sul
Populações indígenas, ambiente, conflitos de fronteira e herança de regimes autoritários estarão na agenda
Quando chegar à América do Sul no domingo (5), o papa Francisco iniciará a missão de levar sua "igreja para os pobres" ao Equador, à Bolívia e ao Paraguai, três dos países mais pobres e periféricos desta parte do continente.
A viagem de uma semana deve mostrar o pontífice em sua melhor e mais imprevisível forma ao permitir que ele expresse em espanhol, sua língua materna, opiniões que lhe são caras. Será o primeiro retorno de Francisco à América do Sul de língua espanhola desde que foi eleito, dois anos atrás.
Os povos indígenas tomarão posição central em boa parte da visita de Francisco, de 5 a 13 de julho. A ordem dos jesuítas, da qual o papa faz parte, estará em posição de destaque por seu papel na evangelização do continente.
Preocupações ambientais na Amazônia, conflitos de fronteira e as marcas deixadas por regimes autoritários na história da América Latina também constarão na agenda do pontífice.
"Ele conhece a realidade daqui, porque trabalhou por muito tempo com os bispos da América Latina e com os jesuítas da Argentina", disse Daniel Gussman, diretor da Caritas, organização assistencial católica em Buenos Aires.
"Ele conhece esses países, nos quais boa parte da população não tem acesso à terra, e seus problemas com a pobreza", completou.
A última vez que os três países receberam visitas de um papa foi na década de 1980. João Paulo 2º foi ao Equador em 1985, e à Bolívia e ao Paraguai em 1988.
Os dois últimos são os países mais pobres da América do Sul. Um em cada quatro bolivianos vive com renda abaixo dos US$ 2 por dia, de acordo com o Banco Mundial.
"Aqui se vê um pouco do critério do papa. Ele decidiu visitar países que não estão no topo do panorama mundial em termos geopolíticos", disse o padre Francisco Lombardi, porta-voz do Vaticano.
PROTEGER OS POBRES
Francisco se reunirá com pobres idosos do Equador, visitará a violenta penitenciária de Palmasola, na Bolívia, e irá à favela de Bañado Norte, propensa a inundações no Paraguai. O objetivo é levar mensagens de solidariedade e esperança às pessoas mais marginalizadas da sociedade.
"Francisco não vem para proteger a Igreja Católica, mas para proteger os pobres da Terra", disse Michael Lee, professor-associado de teologia e estudos latino-americanos na Universidade Fordham.
Segundo Lee, Francisco tem preocupações diferentes de seus dois predecessores, que se concentraram em tratar da sobrevivência da Igreja frente à concorrência de outros movimentos religiosos.
Embora a visita envolva cerimônias protocolares com chefes de Estado, o pontífice também terá eventos mais pessoais e íntimos.
Ele deve, por exemplo, fazer uma oração no local em que o padre jesuíta Luis Espinal foi deixado em 1980 depois de ser preso e torturado por forças paramilitares bolivianas. É provável que esse seja um momento pungente, dada a experiência pessoal de Francisco com a ditadura militar na Argentina.
A cansativa viagem de oito dias testará ainda a resistência física de Francisco, 78, que só tem um pulmão funcional e problemas de coluna. Lombardi não descartou que o papa masque folhas de coca --ou pelo menos tome um chá feito com elas-- para compensar as dificuldades de altitude quando chegar a La Paz.