Venezuela é a mais insatisfeita da região com democracia
Deterioração da economia faz de venezuelanos os mais pessimistas entre 25 países da América Latina, diz pesquisa
Governo incapaz de dar resultados positivos gera descrença, afirma pesquisadora da Universidade Vanderbilt
Descrentes da capacidade de o governo Nicolás Maduro oferecer soluções para seu país, os venezuelanos aparecem como os menos satisfeitos com a democracia na América Latina.
Um estudo do Projeto de Opinião Pública da América Latina (Lapop, em inglês), da Universidade Vanderbilt (EUA), mostrou que a Venezuela ocupa a última posição no ranking de satisfação com a democracia entre 25 países da região.
Na pesquisa, feita com cerca de 50 mil pessoas, o país atingiu 38,3 pontos em uma escala de 0 a 100.
"Quando um governo é incapaz de entregar resultados positivos aos cidadãos, obviamente cai o nível de satisfação com o funcionamento da democracia", diz Mariana Rodriguez, pesquisadora da universidade que analisou os dados da Venezuela.
O resultado apresentado nesta semana pelo Lapop é o pior desde 2007, quando o país ainda era governado por Hugo Chávez (1954-2013).
"A grande diferença entre o governo atual e o de Chávez é que Maduro não conta com o benefício do preço elevado do petróleo", diz Marcus Vinicius de Freitas, professor de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).
"Isso o obriga a repensar políticas públicas, pois o Estado está cada vez mais endividado e com uma moeda desvalorizada."
Para Freitas, Chávez, com o bom preço que o petróleo tinha no início de seu governo, pôde entregar benefícios sociais aos venezuelanos. "Mas Maduro não tem nem o carisma de Chávez nem as circunstâncias da época a seu favor."
PERSPECTIVAS
De acordo com o estudo do Lapop, apesar de a situação econômica ser relevante para a satisfação com a democracia, o maior peso vem da esperança em relação a uma agenda para o futuro.
Freitas concorda. "As pessoas na América Latina entendem que há uma crise global. Porém a grande preocupação é sobre o que os governos estão fazendo para resolver essa situação", afirma.
A Venezuela registrou inflação de 68,5% em 2014. Neste ano, porém, o governo ainda não divulgou os principais indicadores econômicos.
Segundo dados compilados pelo Lapop, 80,3% dos venezuelanos acreditam que a situação econômica é pior que nos 12 meses anteriores.
Para o FMI (Fundo Monetário Internacional), o país deve ter uma retração de 7% no PIB deste ano.
Além da apreensão pelo futuro econômico, os esforços para calar a oposição ajudam a derrubar a credibilidade de Maduro, segundo o estudo.
"Os resultados mostram que os venezuelanos são bastante favoráveis a direitos civis. Os esforços para silenciar críticos do regime podem prejudicar não só o nível de satisfação com a democracia mas também a popularidade de Maduro", diz Rodriguez.