Kerry vai ao Congresso dos EUA defender pacto com Irã
Governos em Washington e Teerã lançam ofensiva por aprovação de tratado
Oposição questiona se monitoramento do programa iraniano será eficaz; diplomata de Israel vê 'catástrofe'
Num raro movimento por uma causa comum, EUA e Irã intensificaram o esforço para vencer as resistências domésticas ao acordo assinado na última semana, que impõe restrições ao programa nuclear iraniano em troca da suspensão das sanções internacionais contra Teerã.
No Congresso americano, três membros do gabinete de Barack Obama defenderam a iniciativa na Comissão de Relações Exteriores do Senado, advertindo que a rejeição do acordo provocará o isolamento internacional dos EUA e elevará o risco de mais uma guerra no Oriente Médio.
O secretário de Estado, John Kerry, classificou como "fantasia" a tese defendida por críticos do entendimento de que era possível alcançar um acordo melhor do que o concluído em Viena entre o Irã e o chamado P5+1 (EUA, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha).
Para ele, nem sanções nem um ataque militar seriam capazes de impedir o Irã de desenvolver armas atômicas.
"A única opção viável é uma solução diplomática abrangente como a obtida em Viena", disse ele. "O acordo tornará nosso país e nossos aliados mais seguros."
Kerry não mencionou nominalmente Israel, um dos principais aliados dos EUA no Oriente Médio e maior crítico do acordo.
Para o governo israelense, é inadmissível levantar as sanções contra o Irã sem exigir o desmantelamento de seu programa nuclear.
"O acordo é uma catástrofe. Não faz sentido dar legitimidade ao enriquecimento de urânio num país que vem enganando o mundo há anos", disse à Folha Reuven Azar, número dois da Embaixada de Israel em Washington.
Os argumentos de Kerry tampouco pareceram superar o ceticismo dos senadores da oposição republicana.
A começar por Bob Corker, presidente da Comissão de Relações Exteriores, que acusou o governo de assustar o público americano ao apresentar apenas duas alternativas, o acordo ou a guerra. "É um exagero", disse.
Na base do ceticismo estão as dúvidas de muitos republicanos e de alguns democratas de que o acordo de Viena não fornece garantias suficientes de que o programa nuclear iraniano será monitorado de forma efetiva.
Além disso, os críticos afirmam que após 15 anos o Irã poderia retomar o caminho para a produção da bomba.
Um dos principais focos de críticas é a cláusula que dá ao Irã um prazo de até 24 dias para permitir a inspeção de suas instalações nucleares, caso surja alguma suspeita.
Questionado sobre esse ponto, o secretário de Energia, Ernest Moniz, observou que os EUA possuem tecnologia altamente sensível para detectar os menores indícios de urânio e outros materiais radioativos, o que impediria que os iranianos escondessem atividades proibidas.
O debate deu início ao período de 60 dias para o Congresso analisar o acordo.
Obama já afirmou que vetará tentativas de bloqueá-lo.
Entretanto, o senador Marco Rubio, pré-candidato republicano à Presidência, lembrou diversas vezes que o sucessor de Obama poderá revogá-lo: "É um acordo sem garantia de sobrevivência".
TEERÃ
Em Teerã, o presidente iraniano, Hasan Rowhani, rebateu as críticas de alas conservadoras do regime lembrando que uma de suas principais promessas de campanha foi reduzir o isolamento internacional do Irã, que aumentou durante a presidência do seu antecessor, o polêmico Mahmoud Ahmadinejad.
"Esta é uma nova página na história", disse Rowhani ao vivo na TV iraniana. "Ela não se abriu com o acordo de Viena, em 14 de julho, mas em 4 de agosto de 2013, quando os iranianos me elegeram presidente", acrescentou.