Sobrevivente que veio para o Brasil descreve chuva negra e sede
Takashi Morita, 91, retorna anualmente à cidade bombardeada para lembrar tragédia
Aos 91 anos, Takashi Morita ainda se emociona quando caminha pelas ruas de Hiroshima, no Japão.
Desde 1984, o comerciante, que adotou São Paulo como lar, volta quase anualmente para a cidade onde trabalhava quando a primeira bomba atômica foi detonada, no verão setentrional de 1945.
Apesar de terem passado 70 anos, o nonagenário Morita afirma lembrar de cada detalhe daquele 6 de agosto como se fosse recente.
"Quando a bomba explodiu, eu estava a apenas 1,3 km do hipocentro. Com o impacto fui arremessado para longe, e quando consegui levantar vi um clarão forte", recorda, na língua nativa.
"Depois, veio a chuva preta e muita gente bebeu desesperadamente aquela radiação porque achava que mataria uma sede incontrolável", contou à Folha o japonês, que, na época, tinha 21 anos e integrava a Polícia Militar japonesa.
Morita chegou ao Brasil em 1956 com a mulher e dois filhos. Imigrou com a esperança de que poderia se curar da leucemia ao mudar de ares.
Desde então, ele insiste, a doença nunca voltou a se manifestar.
Em 1984, o imigrante fundou a Associação Hibakusha Brasil pela Paz, que reúne hoje 106 sobreviventes da tragédia e seus descendentes.
Ele e mais dois membros da associação estão no Japão para acompanhar de perto as cerimônias que marcam nesta quinta-feira (6) os 70 anos da bomba atômica.
Já participaram de diversas atividades com jovens estudantes e universitários, e Morita diz que não se cansa de contar a mesma história.
"A minha missão é conscientizar as pessoas, principalmente os jovens, sobre os efeitos da radiação", justifica. "Guerra, nunca mais."