Análise
Oposição a Cristina Kirchner ganhou, só que não
A oposição à presidente Cristina Fernández de Kirchner ganhou as primárias de domingo, dia 9, por 54% dos votos distribuídos por suas seis candidaturas, contra 38% do candidato único do peronismo/kirchnerismo (computados 98% dos votos).
É certo, então, que na eleição para valer, em 25 de outubro, haverá uma rara derrota do peronismo? Não dá para dizer, pois o teorema eleitoral é mais complexo do que a aritmética. Por partes:
1 - Admitamos que prevaleça a lógica e os eleitores se comportem no primeiro turno do pleito presidencial da mesma forma como o fizeram nas primárias.
Nesse caso, afasta-se a hipótese de vitória de Daniel Scioli, o candidato governista, na primeira fase.
Seria sua melhor chance. Para isso, Scioli teria que obter ao menos 40% dos votos e ficar dez pontos à frente do segundo lugar.
2 - A primária indica que Scioli bateu no teto com seus 38,4%. A principal coligação opositora ("Cambiemos" ou "Mudemos") escolheu Mauricio Macri, entre seus três candidatos, que somou 30% dos votos. Significa que Scioli ficou a 1,6 ponto percentuais dos tais 40% e a menos de dois de abrir dez pontos sobre a frente opositora.
3 - Se de fato o primeiro turno terminar como as primárias, Scioli enfrentará Macri no turno final e terá que correr atrás, principalmente, dos 20,6% que votaram pelas duas chapas de peronistas dissidentes, lideradas por Sergio Massa (o vencedor) e José Manuel de la Sota.
É improvável que possa conseguir os 3,5% de Margarita Stolbizer, a outra oposicionista que passa para a eleição de verdade –e com esse percentual dá os 54% que a oposição contabilizou.
4 - Macri, por sua vez, precisará, no segundo turno, dos 20,6% de Massa, o dissidente peronista, o que não é fácil de obter.
Não dá para dizer, por enquanto, o que vai prevalecer entre os eleitores de Massa, se o oposicionismo a Cristina (e, por extensão, a Scioli, o candidato dela) ou se a aversão atávica do peronismo aos conservadores, de que Macri é o representante.
Tudo somado, dá para dizer que, aritmética à parte, deu empate nas primárias e só o segundo turno será capaz de desfazê-lo.