Caminhão com corpos é achado na Áustria
Veículo da Hungria tinha pelo menos 20 cadáveres de imigrantes; crise é alvo de reunião entre líderes europeus
Budapeste intercepta 3.241 clandestinos; naufrágio de dois barcos na costa da Líbia mata ao menos 200
A crise imigratória na Europa ganhou um capítulo mais dramático nesta quinta (27) após a descoberta de um caminhão-frigorífico com ao menos 20 corpos na estrada que liga a Áustria à Hungria.
A revelação foi feita no momento em que uma reunião extraordinária ocorria em Viena para discutir soluções à situação que se agravou nos Balcãs nos últimos dias.
O caminhão tinha placa húngara e teria sido abandonado na estrada na quarta (26), a 40 km de Viena.
Mais detalhes, como número exato de mortos e quem pode ter sido o responsável pela condução do veículo de um país para outro, devem ser divulgados nesta sexta (28) pelas autoridades.
A chanceler alemã, Angela Merkel, presente à reunião em Viena, declarou estar "profundamente chocada". "Isso nos faz lembrar que precisamos enfrentar rapidamente a questão imigratória, dentro de um espírito europeu, de solidariedade."
A decisão da líder alemã de comparecer ao debate na Áustria ocorre em meio a uma crise interna em seu país envolvendo grupos de extrema-direita hostis a refugiados.
Merkel tem reagido com o discurso de que não vai tolerar xenofobia diante do fato de que a Alemanha espera receber 800 mil pedidos de asilo neste ano, mais do que qualquer outro país europeu.
O chanceler austríaco, Werner Faymann, afirmou que os corpos no caminhão reforçam a necessidade de uma saída urgente para conter o fluxo diário de imigrantes para a União Europeia, e a ministra do interior, Johana Mikl-Leitner, prometeu intensificar o combate a traficantes de pessoas na região.
"São criminosos", disse.
BARCOS NAUFRAGADOS
Segundo dados do Acnur (agência da ONU para refugiados), pelo menos 292 mil pessoas chegaram à Europa pelo mar Mediterrâneo em 2015. A Grécia é o país que mais recebeu, com 181 mil, seguida da Itália, 108 mil.
A maioria parte em barcos e botes precários do território da Líbia (norte da África), procedente de países como Síria, Afeganistão, Paquistão, e da África subsaariana.
Nesta quinta, dois desses barcos naufragaram na costa da Líbia com quase 500 pessoas a bordo. Segundo a organização Médicos sem Fronteiras, ao menos 200 corpos foram resgatados. Cerca de 200 imigrantes foram retirados com vida do mar.
Na Europa, o cenário se agravou nos últimos dias com o fluxo intenso saindo Grécia em direção à Macedônia e, de lá, para a Sérvia.
A Hungria afirmou ter interceptado um número recorde de imigrantes para um só dia, 3.241, sendo 700 menores, na quarta (26). Vieram da Sérvia. O governo húngaro está em fase final de construção de uma barreira de 175 km entre os dois países.
A mídia europeia trata a situação como a mais grave crise imigratória desde 1945. "Temos mais refugiados no mundo do que em qualquer momento desde a Segunda Guerra", disse Merkel.
REINO UNIDO
Também nesta quinta, o governo britânico revelou um recorde no seu saldo migratório (diferença entre o total de estrangeiros que chegam e britânicos que saem).
Ao todo, 636 mil pessoas imigraram para o Reino Unido nos 12 meses até março, 84 mil a mais do que o período imediatamente anterior.
Ao mesmo tempo, 307 mil britânicos saíram neste intervalo, uma queda de 9.000. A diferença de 329 mil (636 mil menos 307 mil) é um recorde.
Os números aumentam a pressão dentro do governo conservador do premiê David Cameron para intensificar o rigor da política migratória local.