Governo alemão diz estar disposto a acolher 500 mil refugiados por ano
Para vice-chanceler, porém, outros países europeus têm de receber migrantes de zonas de conflito
UE deve anunciar hoje plano para distribuir refugiados pelo bloco e fundo de € 1,8 bi para conter fuga da África
O governo da Alemanha sinalizou nesta terça-feira (8) sua disposição de receber anualmente cerca de 500 mil refugiados de zonas de conflito no Oriente Médio e no norte da África até que a crise humanitária arrefeça.
"Acredito que poderíamos lidar com algo em torno de meio milhão [de refugiados] por muitos anos. Não tenho dúvida quanto a isso, talvez mais", declarou o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel.
Gabriel salientou, porém, que outros países europeus também têm de aceitar receber parte dos refugiados que chegam diariamente de zonas de conflito, vindos de países como Síria, Afeganistão, Eritreia, Somália e Nigéria.
"Não podemos simplesmente acolher quase 1 milhão de pessoas todos os anos e integrá-las sem problemas", afirmou o vice-chanceler.
A Alemanha calcula que, só em 2015, receberá 800 mil pedidos de asilo, quatro vezes mais que no ano anterior, o que faz do país o principal destino de refugiados e migrantes na União Europeia.
Nesta quarta (9), o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, deve anunciar um plano de acolhida de 120 mil refugiados por parte dos 28 membros da UE.
Os alemães defendem cotas obrigatórias para cada integrante do bloco, ideia recusada por países do Leste Europeu e dos Bálcãs –República Tcheca, Eslováquia, Hungria e Polônia já rejeitaram tentativa anterior da UE de distribuir 40 mil refugiados.
Em uma mudança de posição, a Espanha anunciou que está disposta a receber todos os refugiados propostos pela Comissão Europeia.
A vice-premiê Soraya Santamaría não especificou os números, mas na quarta o braço executivo da UE deve propor uma cota de 19 mil para o país. Em maio, o governo espanhol de centro-direita afirmara que acolheria um número menor de refugiados, em razão dos altos índices de desemprego no país (22%).
FUNDO ANTIMIGRAÇÃO
A União Europeia também planeja criar um fundo de € 1,8 bilhão (cerca de R$ 7,6 bilhões) para ajudar países africanos a gerenciar suas fronteiras e reduzir o número de migrantes para a Europa.
A medida, que segundo a agência Associated Press estará no pacote a ser anunciado nesta quarta (9), deve ser acompanhada de uma lista de "países seguros", como Albânia e Kosovo –o objetivo é limitar a concessão de asilo a pessoas provenientes deles.
"Nossa intenção é aumentar a estabilidade [na África] e atacar a raiz das causas do fluxo de migrantes ilegais", diz o rascunho do documento que a UE deverá divulgar.
Estima-se que cerca de 100 mil migrantes do norte da África tenham sido interceptados neste ano quando tentavam cruzar o mar Mediterrâneo na direção da Europa.
A ONU prevê que, em 2015, cerca de 400 mil pessoas cruzem o mar para se refugiar em países europeus –em 2014, 219 mil fizeram a travessia.
O chanceler da França, Laurent Fabius, disse que seria um erro a Europa receber todos os refugiados perseguidos pelo Estado Islâmico em países como a Síria e o Iraque.
"A situação é muito difícil, mas, se todos os refugiados vierem para a Europa ou forem para outro lugar, isso significa que o Daesh ganhou", disse Fabius, referindo-se ao EI pelo seu nome árabe.