Líder chilena vive crise de popularidade
Michelle Bachelet sofre com mau momento econômico do país e com dificuldade de aprovar reformas prometidas
Mandatária, que chegou a 84% de aprovação no 1º mandato e hoje fica em 22%, se desgasta ainda com caso familiar
Para uma presidente que atingiu 84% de popularidade no fim de sua primeira gestão (2006-10) –recorde no Chile–, o magro índice de 22% (pesquisa CEP, divulgada no fim de agosto) é o suficiente para agravar um cenário de tensão política.
Um ano e meio após o início de seu segundo mandato, a socialista Michelle Bachelet, 63, luta para aprovar no Congresso um pacote de reformas educacionais e trabalhistas, com o qual pretende reestabilizar seu governo e recuperar a aprovação popular.
Apesar de ter maioria na casa, Bachelet não vem conseguindo fazer com que as leis que compõem seu plano de governo sejam aprovadas.
"Uma combinação de fatores explica esse mau momento. Por um lado, o desânimo com a desaceleração econômica, que vem com a queda das exportações para a China; depois, uma má condução na formulação dessas reformas, que são necessárias para diminuir a desigualdade no Chile. E, para agravar, estão os casos de corrupção ligados a seu governo", diz à Folha o analista Guillermo Hollzman, da Universidade de Valparaíso.
O estudioso se refere ao "nueragate", escândalo divulgado no início deste ano, em que o filho e a nora de Bachelet figuram como protagonistas. O casal teria se aproveitado de vínculos privilegiados no governo para especular com a compra e venda de terras.
"Bachelet foi muito lenta para reagir, e a sociedade não perdoou isso. Ela passou a perder apoio tanto da direita como da esquerda", diz Fernando García Naddaf, da Universidade Diego Portales.
Outro caso que ajudou a desgastar a presidente foi a denúncia de irregularidades no financiamento de campanha de vários partidos, inclusive o da Concertação, aliança à qual pertence.
Uma das empresas envolvidas é a mineradora Soquimich, que pertence a um parente do ex-ditador Augusto Pinochet (1915-2006).
O ponto mais polêmico das reformas é a promessa de campanha de tornar o ensino superior gratuito (principal bandeira das manifestações estudantis de 2011).
"Prometeram isso às pressas, agora é difícil cumprir, porque pressupõe uma reforma também do sistema de pré-escola e escola, difícil de implementar", diz à Folha o ex-candidato à Presidência Marco-Enríquez Ominami.
O contexto econômico internacional colabora para o clima ruim.
Com uma média de crescimento ao redor de 4% na última década, o Chile deve crescer de 1,8% a 2% em 2015, segundo projeções oficiais.
Exportador de minerais, principalmente cobre, o país sofre com a queda das compras chinesas.
SUCESSÃO
Com isso, a corrida pela sucessão de Bachelet, cujo mandato termina só em 2017, se acelerou.
No ano que vem serão realizadas eleições municipais, que devem servir de termômetro para o futuro rumo político do país.
À direita, vem se posicionando com duras críticas à Bachelet o ex-presidente Sebastián Piñera (2010-14). Já à esquerda, tradicional nicho da mandatária, novos nomes vêm se destacando e se apresentando como potenciais candidatos.
Um deles é o da senadora Isabel Allende (não confundir com a escritora homônima), filha do ex-presidente Salvador Allende, e o também ex-ocupante do cargo Ricardo Lagos (2000-2006).
O próprio Ominami também anuncia que entrará em sua terceira disputa –na última eleição, obteve 20% dos votos.
NA INTERNET
Leia entrevista com Marco-Enríquez Ominami
folha.com/no1682654