Tragédia de 2010 e acaso limitaram danos de novo sismo
Edifícios foram fortificados e população alertada; epicentro perto de zona menos povoada reduziu estrago
Quando voltou para casa após o terremoto que atingiu o Chile na noite de quarta (16), a gerente comercial Cristiane Reis notou que não havia danos. "Nada caiu, nada quebrou. O tremor vinha como ondas, mas o asfalto não partiu", contou à Folha a brasileira, no país há três anos.
No momento do tremor, a filha de 10 anos de Cristiane guiou os pais para fora de casa. "Estávamos na sacada, e ela nos disse que não poderíamos ficar onde havia cobertura, o seguro era ir para a rua. Aprendeu na escola."
Um misto de preparação e acaso explica por que o terremoto desta semana, embora intenso, foi menos letal do que o que atingiu o país em 2010, deixando 525 mortos. Até a conclusão desta edição, informações oficiais registravam 12 mortos.
"Desta vez, o terremoto disparou automaticamente alertas de tsunami. Em 2010, as autoridades demoraram a reagir", diz o sismólogo Jorge França, da Universidade de Brasília (UnB).
O erro de avaliação do governo em 2010 acabou se tornando uma das razões principais para as mortes causadas pelo tsunami.
ALERTA IMEDIATO
Desta vez, com o alerta imediato, 1 milhão de pessoas foi retirado de áreas costeiras, segundo dados do Ministério do Interior. A recomendação era que as pessoas se abrigassem a 30 metros acima do nível do mar.
Isso pode ter sido determinante para salvar vidas em Tongoy, cidade litorânea ao norte de Santiago que foi varrida por ondas de quase cinco metros na noite de quarta.
No país onde os terremotos são frequentes, a tecnologia para evitar desastres evolui com a experiência das perdas. Edifícios são construídos para suportar solavancos verticais e horizontais.
As cidades litorâneas afetadas pelo tsunami de 2010 foram reconstruídas com casas com piso de concreto armado. Em caso de novo maremoto, não haveria perda total, anunciou o governo chileno ao entregar as construções, em 2011.
O governo também passou a fazer simulações de maremotos com a população.
Mas também é verdade que este terremoto foi menos intenso que o de 2010, que chegou a magnitude 8,8.
Segundo o diretor do Centro de Estudos Sísmicos da Universidade do Chile, Sergio Barrientos, a zona de influência deste abalo equivale à metade do tremor de 2010.
O deslocamento das placas tectônicas foi de cinco a seis metros, contra 20 em 2010 (quanto maior o deslocamento vertical do terreno do fundo do mar, maior o tsunami).
Em 2010, o terremoto gerou ondas de 27 metros que atingiram a segunda região mais populosa do Chile (em Concepción, cidade mais afetada, vivia 1,9 milhão). Em toda a região de Coquimbo, atingida agora, são 700 mil.