Papa se reúne com Fidel e faz apelo contra a ideologia
No contexto da abertura econômica, Francisco pediu aos cubanos que sirvam às pessoas e evitem o individualismo
Pontífice ainda apelou pela continuidade do diálogo entre Colômbia e as Farc e recebeu livro de Frei Betto de presente
O papa Francisco se reuniu neste domingo (20) com o líder Fidel Castro horas depois de pedir aos cubanos na missa campal que estejam atentos aos perigos da ideologia e da ilusão do egoísmo nesta nova fase que vive a ilha.
Embora não tenha feito uma menção direta à situação política de Cuba, ele fez uma crítica sutil à ditadura dos irmãos Castro ao pedir aos fiéis que "sirvam às pessoas, não a ideias".
"Quem quiser ser grande deve servir aos demais, não estar a serviço de outros. A servidão nunca é ideológica, logo não devemos servir a ideias, mas às pessoas."
Ao mesmo tempo em que criticou o regime, Francisco apelou aos fiéis para que não se deixem dominar pela ambição e pelo individualismo.
"O cristão é convidado sempre a deixar de lado suas buscas, afãs, desejos de onipotência ante o olhar concreto aos mais frágeis".
O pedido é feito no contexto da abertura econômica do país, que tem permitido o empreendedorismo e o enriquecimento de alguns cubanos.
A tendência é que a abertura cresça com a chegada dos investimentos americanos, consequência da abertura das relações entre Cuba e os Estados Unidos.
Depois da missa, que reuniu milhares de pessoas na praça da Revolução, Francisco fez um encontro de 40 minutos com o líder Fidel Castro em sua casa em Havana.
Na reunião, os dois abordaram temas como a preservação do meio ambiente e trocaram livros sobre religião de presente. O cubano dedicou ao papa o livro "Fidel e a religião", escrito pelo teólogo brasileiro Frei Betto.
Já o pontífice deu a Fidel cópias da encíclica Laudato Si, sobre meio ambiente, e da exortação Evangeli Gaudium, e uma coletânea de discursos do padre espanhol Armando Llorente, que foi professor e mentor do líder no colégio.
Francisco é o terceiro papa a se encontrar com o ex-ditador cubano. O primeiro foi João Paulo 2º, quando ele ainda estava no poder em 1998.
Depois que Fidel cedeu o poder a seu irmão Raúl, em 2006, ele ainda recebeu outra visita –a de Bento 16, em 2012. Raúl Castro já havia se encontrado com Francisco no Vaticano, em maio deste ano.
FARC
Na missa campal em Havana, o pontífice ainda pediu que não haja um novo fracasso nas negociações de paz entre o governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Ele agradeceu Raúl Castro pela mediação do conflito, que ocorre há três anos em Cuba. Às partes envolvidas, pediu o fim da "longa noite de dor e violência" da guerra.
"Que o sangue vertido por milhares de inocentes durante tantas décadas de conflito armado sustente os esforços que estão sendo feitos."
Antes do início da missa, policiais prenderam três dissidentes do grupo União Patriótica de Cuba que gritaram frases contra o regime na praça da Revolução.
O protesto mostrou uma falha no esquema para evitar o contato de Francisco com os opositores. Segundo a líder das Damas de Branco, Berta Soler, ela e mais de 30 dissidentes foram presos e soltos desde sexta-feira (18).