Rússia surpreende EUA e bombardeia Síria
Moscou afirma que alvo era Estado Islâmico, mas Washington suspeita que fosse oposição a regime de Damasco
Início de operações aéreas russas leva o conflito que matou 250 mil a novo nível; tema domina cúpula da ONU
A Rússia iniciou ataques aéreos na Síria nesta quarta (30), criando mais um ponto de atrito com os EUA e aumentando a complexidade de um conflito que deixou mais de 250 mil mortos e 4 milhões de refugiados desde 2011.
O movimento foi combinado à ampliação de sua atuação diplomática na crise.
Segundo o Ministério da Defesa russo, "ataques pontuais" tiveram como alvo "equipamento militar, centros de comunicação, veículos motorizados e depósitos de munição e combustível dos terroristas do Estado Islâmico". A ofensiva, que teria atingido oito locais, teve aval do Parlamento russo.
A cúpula militar americana questionou a informação, dizendo ter motivos para crer que os alvos tenham sido áreas controladas não pelo EI, mas por grupos que se opõem ao ditador sírio, Bashar al-Assad –alguns deles, apoiados pelos EUA.
Poucos detalhes da operação foram divulgados por Moscou. Uma fonte síria não identificada da agência Associated Press afirmou que um dos ataques visou a região de Homs, sob domínio dos rebeldes anti-Assad e não do EI.
Em sinal da gravidade e velocidade da escalada na Síria, o secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, convocou entrevista urgente, na qual disse que os ataques provavelmente não atingiram áreas do EI e podem ter matado civis, o que arrisca inflamar mais a crise. "É como jogar gasolina no fogo", declarou.
Ao saber dos questionamentos, o chanceler russo, Serguei Lavrov, foi seco: "Não deem ouvidos ao que diz o Pentágono sobre os ataques".
LINHA DE FRENTE
Com os ataques aéreos e a convocação de reunião no Conselho de Segurança da ONU nesta quarta, a Rússia assumiu a linha de frente no debate sobre a Síria.
Presidindo a reunião convocada por Moscou um dia após os americanos realizarem evento semelhante, Lavrov ressaltou a importância de uma frente unida contra o EI e circulou uma resolução no CS para tornar a proposta realidade. "Precisamos de posições aprovadas coletivamente, com o apoio do Conselho de Segurança", disse.
O apoio militar de Moscou ao regime de Damasco sofre forte oposição dos EUA, que não consideram possível uma solução para a crise enquanto Assad estiver no poder.
O governo dos EUA disse ter sido informado da ofensiva apenas uma hora antes por uma mensagem de Moscou à embaixada americana no Iraque, que incluía um pedido para que os americanos evitassem o espaço aéreo sírio durante os ataques russos.
O secretário Carter ressaltou o risco de um "incidente" entre as forças russas e as forças da coalizão liderada pelos EUA durante a operação.
Na frente diplomática, o chanceler russo reiterou o discurso do presidente Vladimir Putin à Assembleia da ONU dois dias antes, quando defendeu a criação de uma coalizão contra o EI nos moldes da que derrotou Hitler.
Mais de 70 países participaram da sessão convocada pela Rússia, inclusive Brasil.
Desde sua abertura, dia 28, a Assembleia-Geral é dominada pela crise na Síria e pela disputa entre EUA e Rússia sobre como enfrentá-la.
No Conselho de Segurança, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse que há motivos para duvidar se "a real intenção da Rússia é combater o EI". Ele e Lavrov se reuniram três vezes nesta semana para tratar do tema.