Tunisianos ainda têm desafios sociais para consolidar transição
Ao premiar o Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia, o comitê do Nobel da Paz elogiou os avanços democráticos vividos no país, que em 2011 destronou o seu então ditador Ben Ali.
Essa vitória não significa, porém, que a Tunísia já tenha solucionado todos seus desafios, que vão além de celebrar eleições. Ainda é preciso resolver as suas tensões sociais.
A violência é um desses desafios. A Tunísia é hoje um dos países que mais enviam guerreiros para a milícia radical Estado Islâmico. Em junho, um terrorista tunisiano matou turistas no balneário de Sousse, ao sul de Túnis.
"Precisamos de uma resposta social e econômica a esse fenômeno", afirma, em entrevista à Folha, a parlamentar Sayida Ounissi, do partido islamita Ennahda. "A maioria que decide se unir ao EI vem das áreas menos desenvolvidas no país."
A desigualdade e a dificuldade em agradar tanto seculares quanto religiosos fizeram da revolução tunisiana um grande desafio.
A transição foi ameaçada, em 2013, pelo caos social e pela violência política. Assim como a Irmandade Muçulmana no Egito, o Ennahda deixou o poder, mas a saída foi pacífica.
"Era um momento muito complicado", diz Ignacio Álvarez-Ossorio, professor na Universidade de Alicante (Espanha) e coordenador de Oriente Médio e norte da África na Fundação Alternativas. "A atuação do Quarteto evitou que se chegasse a uma saída como a egípcia."
A própria organização do prêmio fez a comparação entre as revoluções na região. Os protestos não trouxeram tantos benefícios ao Egito, por exemplo, em que direitos individuais têm sido violados. Líbia, Síria e Iêmen vivem hoje embates violentos.
Graças ao Quarteto, o país aprovou uma nova Constituição, votou recentemente para Parlamento e presidente, e tem dado mostra do papel da sociedade civil no processo democrático.
"O prêmio é uma mensagem aos outros países na região", diz a jornalista tunisiana Zainie Amina. "Os líbios e os sírios podem fazer como fizemos, resolvendo suas crises pelo diálogo."