Míssil russo abateu avião na Ucrânia, diz perícia
Conclusão é de equipe holandesa; russos contestam investigação
Equipe cita marcas em destroços do voo MH17 que dizem só poder ser de míssil Buk; pilotos morreram na hora
Uma investigação holandesa apontou nesta terça (13) que um míssil de fabricação russa foi responsável pela queda na Ucrânia, no ano passado, do voo MH17 com 298 pessoas a bordo.
Na conclusão da investigação iniciada após a tragédia, o órgão de investigação de acidentes aéreos da Holanda (Dutch Safety Board) pela primeira vez diz que um míssil russo derrubou o Boeing-777 da Malaysia Airlines.
O voo fazia a rota Amsterdã-Kuala Lumpur e caiu em 17 de julho de 2014 na vila de Grabove, perto de Torez, leste do país. Das vítimas, 193 eram holandesas.
De acordo com o relatório, o avião foi atingido por um míssil russo Buk disparado da região sob controle do grupo separatistas pró-Rússia.
Para rebater a conclusão, o fabricante do míssil, a empresa russa Almaz-Antey, divulgou em Moscou sua apuração própria dizendo que o projétil que atingiu o avião não pertence às forças russas e teria partido de área dominada por forças da Ucrânia.
Em meio à guerra de versões, nenhum dos lados é capaz de apresentar uma resposta para o principal mistério: quem disparou o míssil.
A Dutch Safety Board diz que cabe a uma investigação criminal apontar culpados. Na Holanda, promotores apuram o caso, mas estão longe de encerrá-lo.
Lideranças internacionais, como o premiê britânico David Cameron, prometeram nesta terça punir os responsáveis, mas o discurso tem pouco efeito já que os lados envolvidos –Ucrânia, Rússia e separatistas– se negam a buscar juntos o culpado.
O vice-ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Riabkov, considerou a conclusão holandesa "parcial", enquanto o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, alegou que isso confirma o envolvimento dos separatistas.
A queda do Boeing agravou o conflito e influenciou a decisão da União Europeia e dos EUA de impor sanções econômicas à Rússia.
EXPLOSÃO NA CABINE
Segundo a investigação holandesa, o míssil teria explodido do lado esquerdo do avião, acima da cabine do piloto. Três membros da tripulação teriam morrido instantaneamente.
O relatório identifica um míssil russo como causa com base no padrão dos danos deixados nos destroços e nos fragmentos de ogivas usadas em mísseis Buk encontrados na fuselagem e nos corpos de membros da tripulação.
"Nenhum outro cenário que não seja o míssil Buk pode explicar as combinações dos fatores", diz o presidente do órgão, Tjibbe Joustra.
A Holanda destaca a dificuldade que teve em buscar provas no local controlado por rebeldes: somente quatro meses depois da queda foi possível recuperar destroços.
O relatório aponta ainda que o espaço aéreo daquela região deveria estar fechado por causa do conflito em curso e ressalta a necessidade de revisão das normais internacionais sobre voos comerciais em áreas de conflitos.
Os parentes das vitimas foram informados do conteúdo do documento pouco antes de sua divulgação.
Apesar da confirmação de que os tripulantes na cabine morreram quando o míssil explodiu, os investigadores afirmam não ter como esclarecer se os passageiros também perderam a vida imediatamente ou se chegaram a ter consciência do que ocorria.
NA INTERNET
Veja reconstituição da queda pela perícia
folha.com/no1693296