Uma corrida pela vida dos cavalos
Por SAM BORDEN
PARDUBICE, República Tcheca - Uma manada de cavalos se aproximou em velocidade da famosa sebe, com os cavaleiros curvados para baixo. A batida dos cascos produzia um som ruidoso, e tufos de grama voavam, como que agitados por um ventilador elétrico. Os cavalos não conseguiam ver o que havia além da parede verde de mais de um metro e meio que se erguia adiante, mas os torcedores sabiam. Muitos prendiam a respiração quando os cavalos se lançavam para o outro lado, num teste para as pernas -e as esperanças- dos animais.
A Grand National, da Inglaterra, pode ser a mais famosa prova equestre com obstáculos do mundo, mas o salto mais histórico, se não o mais controverso, fica a cerca de uma hora de carro do centro de Praga. Em 12 de outubro, como é praxe quase anualmente desde 1874, é realizado a Velká Pardubická (Grande Pardubice), e um grupo de cavalos desafia a "Taxisuv prikop", ou Grande Fossa de Taxis, uma trincheira brutal que já custou muitas vidas.
A Taxis ocupa um lugar sagrado no hipismo europeu, já que os cavaleiros não têm permissão para treinar o salto no local da prova, e a única competição da qual faz parte é a Velká, um penoso teste de resistência que leva os cavalos a uma corrida por trilhas com 31 saltos em aproximadamente 7 km. Em 124 edições da Velká, nunca houve uma corrida na qual todos os cavalos que começaram o trajeto foram capazes de concluí-lo.
A Taxis, sobrenome de um príncipe do século 19 que convenceu os organizadores a manterem o salto perigoso na corrida, é formada por uma sebe imponente e uma vala que tem cerca de um metro de profundidade e mais de cinco metros e meio de extensão.
Desde 1927, 24 cavalos morreram depois de caírem na Taxis, incluindo uma égua marrom chamada Zulejka, que foi sacrificada depois do evento deste ano.
No começo da tarde, outro cavalo, Tammy'n Classy, já havia sido sacrificado depois de cair em outro obstáculo.
As mortes não parecem afetar a popularidade da corrida, mas as costumeiras preocupações de grupos de defesa dos animais persistem. Os protestos relacionados à Velká tiveram seu auge há mais de 20 anos, quando manifestantes irromperam da floresta ao redor, pouco antes do início da corrida de 1992, numa tentativa de cancelar o evento (eles só conseguiram provocar um atraso).
"Nos anos 90, os organizadores de fato promoviam a corrida como algo onde você poderia ver cavalos morrerem, disse o ativista Filip Fuchs.
Em 2013, somente seis dos 20 cavalos que iniciaram a Velká terminaram a prova, e um cavalo foi sacrificado depois de uma queda; este ano, 17 dos 22 que deram a largada completaram a corrida, mas três caíram na Taxis.
As pessoas que apoiam a corrida afirmam que, em geral, os ferimentos vêm sendo menores na Taxis desde 1993, quando os organizadores reduziram as dimensões do salto e suavizaram a margem de aterrissagem. Além disso, mourões de madeira foram retirados da sebe, o que deu mais flexibilidade aos ramos, em vez da rigidez que podia lançar os cavalos em cambalhotas.
"Quando alguém olha de fora, talvez pense que é injusto ou inseguro", disse Jiri Janda, responsável por manter a pista em boas condições. "Mas é muito diferente agora em relação ao que era antes, e [o fosso] surge no começo da corrida, portanto, quando os cavalos estão fortes"
Vaclav Chaloupka, vencedor da corrida por quatro vezes, entre 1969 e 1977, disse que quase todos os obstáculos na Velká podem conduzir à queda do jóquei.
Cada obstáculo é único e há uma variedade maior, já que os cavalos têm de ultrapassar sebes, áreas com água, cercas e um morro conhecido como Banco Irlandês, que requer que o cavalo pule para cima e para baixo.
Este ano, Josef Vana, a lenda da Velká, competiu aos 61 anos em sua 28ª. corrida. E uma vez mais ele passou com segurança pela Taxis.
Depois de cruzar a linha de chegada, Vana olhou para trás, na direção do quarto salto, a Taxis, onde várias ambulâncias estavam ociosas. Depois olhou para frente, onde Jan Faltejsek, montado em uma égua chamada Orphee des Blins, estava festejando.Faltejsek assumiu a liderança cedo e venceu, lançando-se à frente em um ponto decisivo, o que, para o bem e para o mal, certamente não foi surpreendente. "Na Taxis," disse ele.