Preço do petróleo afeta reforma de energia no México
Por ELISABETH MALKIN
CIDADE DO MÉXICO - O México iniciou a abertura de sua indústria do petróleo com otimismo. Em um evento no Museu da Tecnologia, na capital, sete meses atrás, mapas brilhavam em uma tela gigante, mostrando dezenas de campos de petróleo que seriam oferecidos em leilão para empresas privadas pela primeira vez em mais de 75 anos.
Com o barril de petróleo a cem dólares na época, as projeções eram ambiciosas. Nos quatro anos seguintes, o México atrairia mais de US$ 12 bilhões em investimentos por ano. Até 2018, empresas privadas bombeariam 500 mil novos barris de petróleo por dia.
Mas os preços do petróleo despencaram, e o ambiente tornou-se tenso. A dúvida agora é se as companhias privadas ainda vão querer investir no México. Nos últimos meses, grandes atores do setor de energia reescalonaram seus planos de investimento com a queda dos preços do petróleo.
Para incentivar os investidores, o governo mexicano atenuou os termos dos contratos. Ele também cogita adiar alguns leilões até que o ambiente de preços melhore.
A reforma do setor de energia está no centro dos esforços do presidente Enrique Peña Nieto para estimular a economia, depois de décadas de crescimento anêmico.
A esperança é que companhias privadas invistam fortemente no desenvolvimento de novos campos de petróleo e gás, criando empregos e enchendo os cofres do governo. "Peña Nieto apostou todas as fichas na reforma do setor de energia", disse Luis Miguel Labardini, consultor da Marcos y Asociados, na Cidade do México. "Se eles estragarem tudo, este governo estará condenado."
Atrair dinheiro privado ganhou urgência porque a queda no preço do petróleo acelerou o declínio da companhia de petróleo estatal, a Pemex. Espremida pelos altos impostos e paralisada pelo controle do governo, a Pemex gasta -e pede emprestado- mais dinheiro a cada ano para bombear cada vez menos petróleo. Sua produção diária caiu para menos de 2,4 milhões de barris, 1 milhão abaixo de seu pico uma década atrás.
O governo esperava agir rapidamente para abrir seus campos de petróleo ao investimento privado, planejando leilões mensais para contratos em 169 blocos diferentes, do golfo do México aos depósitos de gás de xisto na fronteira com o Texas. Mas preparar toda a informação para os investidores e criar contratos atraentes está se revelando mais complexo do que se esperava.
Autoridades do setor de energia admitem que muito depende dos resultados do primeiro leilão, em julho, quando o governo concederá um pacote de 14 blocos de exploração em águas rasas, de baixo custo. Mas o preço reduzido do petróleo pode retardar os planos de leilões em campos mais caros.
"Estamos conscientes de que certas áreas não serão tão interessantes quanto eram quando o barril estava a mais de US$ 100", disse Lourdes Melgar, subsecretária de hidrocarbonetos do México. "Não queremos dar áreas de presente por causa da situação atual."
Ainda assim, os baixos preços forçaram o governo a fazer mudanças em suas propostas iniciais de contratos. As novas regras para o primeiro pacote de exploração e um segundo grupo de produção em águas rasas, a ser concedido em setembro, relaxam as exigências mínimas de investimento.
Além disso, os investidores privados terão maior porcentagem dos lucros conforme os retornos aumentarem. Os lucros são divididos com o governo.
"Estamos sob um cenário de mercado diferente", disse Juan Carlos Zepeda, presidente da Comissão Nacional de Hidrocarbonetos, o órgão regulador encarregado de conduzir os leilões.
Ainda assim, as alterações no mercado não afetaram a meta do governo de aumentar a produção em 500 mil barris por dia.
David Shields, analista de petróleo, duvida que os custos de produção sejam tão baixos quanto o governo sugere. "Os campos fáceis e de baixo custo estão se esgotando."
Por enquanto, as companhias de petróleo estão deixando suas opções em aberto. Cerca de 35 pagaram para ter acesso a uma sala de dados hermética onde podem estudar informação sísmica sobre os blocos. Destas, 23 deram os primeiros passos para se qualificar para o leilão, incluindo Shell, Chevron e Petrobras. "Temos de procurar recursos adicionais", disse Ali Moshiri, presidente da companhia de exploração e produção Chevron África e América Latina. "O México é uma estratégia de longo prazo para nós."
Embora os leilões de campos de xisto no norte do México possam não avançar, o regulador Zepeda estava confiante nos de águas profundas. São necessários oito anos para que um empreendimento em água profunda produza o primeiro barril de petróleo, disse ele, por isso as companhias olham para o preço a longo prazo quando avaliam seus gastos. "Quando você está examinando esses projetos, o preço hoje não é muito relevante."