Editoriais
Cortina de fumaça
Com ataques pessoais, candidatos agridem normas de civilidade e ocultam opções custosas que o eleito terá de fazer para governar
Os debates eleitorais na televisão têm contribuído pouco para esclarecer o eleitor. As assessorias dos candidatos conseguem impor regras que sufocam a discussão, quando não chegam ao ponto de banir a presença incômoda de jornalistas aptos a promover uma inquirição independente.
O que se vê é a repetição exaustiva dos argumentos publicitários que tornam a propaganda eleitoral no rádio e na TV tão parecida com anúncios de margarina. Além do autoelogio desenfreado, muito do que dizem os candidatos apenas mimetiza aspirações colhidas em pesquisas qualitativas, formando um círculo vicioso de obviedades.
Não fugiu a esse padrão o debate presidencial realizado na quinta-feira (16) pelo portal UOL (integrante do Grupo Folha), pela emissora SBT e pela rádio Jovem Pan.
Premidos por uma competição acirradíssima, porém, dessa vez o senador Aécio Neves (PSDB) e a presidente Dilma Rousseff (PT) enveredaram como nunca pelo campo dos ataques pessoais.
A conduta individual dos candidatos é tema legítimo numa campanha eleitoral, mas não deveria ocupar o espaço do tema principal --os compromissos de cada um e como eles se propõem a cumpri-los. Nem deveria ser abordado, como ocorreu agora, à custa de violar o mínimo de cortesia que se espera em qualquer confronto civilizado.
É provável --e recomendável-- que os dois candidatos abandonem esse caminho, conforme as pesquisas de opinião encomendadas pelos próprios partidos detectem repulsa do eleitorado pela troca pueril de acusações que se anulam umas às outras, ao final prejudicando ambos.
Como tornar a discussão mais substantiva? Parece interessante a proposta de proibir recursos audiovisuais na propaganda eleitoral, obrigando o candidato a se apresentar sozinho e ao vivo diante da câmera, o que acarretaria a vantagem de reduzir os custos exorbitantes das campanhas.
Quanto aos debates televisionados, esta Folha tem insistido na interpelação jornalística --diante do veto da candidata oficial, preferiu abdicar da condição de patrocinador do último encontro.
Tem proposto ainda a adoção do banco de minutos, que permitiria uma discussão mais livre, com a devida compensação ao candidato que menos houvesse falado ao final de cada bloco.
A uma semana do segundo turno, porém, a presidente nem sequer apresentou um programa de governo. A conjuntura econômica adversa reduzirá a margem de manobra do próximo mandatário e imporá opções custosas para toda a sociedade. Ainda é tempo de procurar conhecê-las melhor.