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EUA em destaque
Dados recentes confirmam que o desempenho da economia americana se destaca do registrado em 2014 e previsto para 2015 nos demais países avançados. Os Estados Unidos devem crescer pelo menos 2,2% neste ano, frustrando expectativas iniciais, mas deve acelerar para 3,1% no ano que vem, segundo as estimativas do FMI.
A Europa do euro terá de fazer esforço para passar de 0,8% para 0,9%. O Japão adota medidas adicionais de estímulo a fim de evitar que o crescimento de 0,9% projetado para este ano seja menor em 2015. Discute-se ainda se a lerdeza nas demais economias avançadas e a redução do ritmo de progresso na média dos países emergentes pode afetar os Estados Unidos.
Com a recuperação americana por enquanto modesta, o aumento das taxas de juros deslocou-se para o final do ano que vem.
Apesar de o desemprego ter baixado para aquém de 6%, mais da metade da redução da taxa de desocupação depois da crise deve-se à diminuição do número de pessoas à procura de emprego.
A proporção de pessoas que diz trabalhar em tempo parcial por falta de opção é historicamente alta. Os salários crescem a um ritmo real inferior a 1% ao ano.
Mas os problemas americanos são bem menos desalentadores que os europeus, onde existe o risco de deflação. Economias emergentes desaceleram. A China deriva para um novo padrão e ritmo de crescimento, o que afeta em especial a América Latina e o Brasil.
Não parece razoável acreditar que os EUA possam carregar consigo a economia mundial. No caso do Brasil, tal fato causa preocupação. A mudança chinesa provoca a queda do preço de nossas exportações mais dinâmicas e importantes (commodities, como minérios).
A fragilidade em outros países prejudica o comércio mundial. Esse contexto desafiador para o aumento das exportações tende a tornar mais difícil financiar o deficit externo que sustenta nosso excesso de consumo. O real tenderá a se desvalorizar também por isso, outra pressão sobre a inflação.
Apesar da complexidade do cenário, surgem oportunidades para a recuperação da indústria, estagnada pela alta de custos internos e pela queda dos preços externos.
A fim de aproveitar essa oportunidade, entretanto, o Brasil tem de passar por rápidas e profundas mudanças econômicas. O país precisa reagir o quanto antes se quiser enfrentar o risco sério de lidar com uma indústria permanentemente abatida e um setor de recursos naturais abalado pelo novo contexto da economia mundial.