Renato Andrade
Dever de casa
BRASÍLIA - O fim das eleições e a volta ao trabalho parecem ter feito boa parte dos moradores da Esplanada dos Ministérios deixar para trás o cenário maravilhoso desenhado pela propaganda eleitoral para encarar a complicada realidade da economia brasileira.
Alexandre Tombini e seus colegas de Banco Central foram os primeiros a assumir que a vida não está tão bela quanto os quadros pintados pelo marqueteiro João Santana.
Ao pegar todo mundo no susto com a elevação da taxa básica de juros na primeira reunião pós-segundo turno, o BC deixou claro que a inflação no país segue num ritmo muito mais forte do que o vendido pela candidata Dilma Rousseff.
A falta de credibilidade do governo quando o assunto é economia é tão grande que mesmo os que passaram boa parte do ano defendendo esse aperto não botaram muita fé nos sinais de "mudança de comportamento" da equipe econômica.
Nesta quinta-feira (6), coube à própria presidente reeleita trocar o discurso de palanque por palavras mais duras para descrever o que acontece com a economia e o que cabe ao governo federal fazer.
O cardápio proposto por Dilma faz qualquer defensor ardoroso de contas públicas controladas e inflação em patamar mais civilizado bater palmas. O problema, entretanto, é que o Palácio do Planalto sofre da mesma falta de confiança que o BC e o Ministério da Fazenda.
Não é segredo para ninguém que Dilma tem a política econômica sob suas mãos. Para o bem e para o mal. Derrubar a desconfiança será tarefa árdua para a presidente petista neste segundo mandato que começou antes da hora e sem dar trégua.
Dilma prometeu que seu governo fará o "dever de casa" para colocar a inflação e as contas públicas no rumo certo. A escolha dos nomes que comandarão a equipe econômica a partir de 2015 será o primeiro grande teste da ilustre aluna de Brasília.