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Além do aperto de mãos
O gélido aperto de mãos entre o líder da China, Xi Jinping, e o premiê do Japão, Shinzo Abe, fotografado na primeira reunião formal que os dois tiveram em dois anos ofuscou avanços concretos na tumultuada relação mantida pelas maiores economias asiáticas.
Três dias antes, na sexta-feira (7), um encontro bilateral terminou com a divulgação de um comunicado com quatro pontos de consenso. No mais importante deles, os dois países reconheceram ter posições diferentes em torno da soberania de um minúsculo arquipélago no oceano Pacífico e se comprometeram a retomar as conversas para diminuir a tensão.
Desde 2012, a relação entre China e Japão vive seu pior momento desde a retomada dos laços diplomáticos, em 1972. O motivo foi o acirramento da disputa pelas ilhotas, chamadas de Diaoyu por Pequim e de Senkaku por Tóquio, que hoje as mantém sob seu controle.
Naquele ano, em resposta à transferência da propriedade do arquipélago de uma empresa privada para o Estado japonês, a China passou a adotar uma posição militarmente agressiva.
Diante da ameaça bélica, a reaproximação foi chamada de primeiro passo por Abe, que esteve em Pequim para participar da cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, na sigla em inglês).
Na prática, nenhum dos lados cedeu em suas posições históricas sobre a soberania do arquipélago, mas houve concessões.
Trata-se, do lado japonês, do primeiro reconhecimento de que o seu controle é contestado. No campo chinês, chamou a atenção Pequim ter concordado em negociar também por canais multilaterais, um recuo na sua tradicional preferência por acordos bilaterais.
O desafio agora é reforçar a via diplomática. Para Xi, significará reavaliar a sua estratégia cada vez mais agressiva em disputas territoriais com países vizinhos, entre os quais Vietnã e Filipinas. Há, ainda, a questão da incitação ao ódio antinipônico promovida pelos meios de comunicação estatais.
Por parte do governo japonês, de nada ajudam provocações de cunho nacionalista. Foi o caso da recente visita de Abe ao templo Yasukuni, onde há homenagens a criminosos da Segunda Guerra Mundial, época em que Tóquio tomou e controlou com imensa violência parte do território chinês.
Em meio a disputas recentes e ressentimentos antigos, o acordo e a reunião bilateral sinalizam um ponto de inflexão numa crise que dura dois anos. O aperto de mãos foi um alívio; que o próximo venha acompanhado de sorrisos largos.