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Seca de informações
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), foi a Brasília no início da semana em busca de recursos federais para enfrentar a crise hídrica no Estado. Após se reunir com a presidente Dilma Rousseff (PT), afirmou, como se não fosse óbvio, que os gestores precisam deixar de lado as diferenças políticas para lidar com a situação.
"Tivemos disputas eleitorais que são legítimas, mas o palanque acabou. Vamos trabalhar juntos para o benefício da população", disse.
Dada a gravidade da ameaça, já se lamenta que Alckmin tenha adiado iniciativas importantes por causa da eleição. Pior, agora, é que agentes diretamente envolvidos com a questão ainda mantenham o tom partidário acima do técnico.
Nesse quesito, Vicente Andreu, presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), tem sido imbatível. Petista de carteirinha e pródigo em manifestações hiperbólicas, declarou que o nível do sistema Cantareira, que hoje abastece 6,5 milhões de pessoas, só voltará à normalidade se houver um dilúvio.
Dias antes, Marco Antonio Lopez Barros, superintendente de produção de água da Sabesp, fora ao polo oposto ao sustentar que, com chuvas regulares, o fornecimento estará garantido até novembro de 2015.
O célere esgotamento dos reservatórios, porém, indica quadro mais adverso. Embora tenha chovido pouco mais de 50% do esperado para o mês inteiro, o nível do Cantareira continuou diminuindo.
Enquanto isso, os paulistas ficam sem saber o que acontecerá no pior cenário, nada improvável caso se prolongue a estiagem recorde. As obras que o Estado quer fazer ficarão prontas só no fim de 2015.
Faltam informações, ademais, sobre uma das principais providências adotadas pela Sabesp, a saber, a redução da pressão da água no sistema de distribuição da capital.
A medida, que a estatal pretende tornar permanente, proporciona grande economia, já que minimiza vazamentos na rede. Por outro lado, afeta moradores da região --sobretudo os de locais distantes e elevados--, que relatam cada vez mais episódios de falta de água.
De acordo com o governo, a iniciativa atinge 2% da Grande São Paulo, ou cerca de 400 mil pessoas. Pesquisa Datafolha feita em outubro sugere números diferentes. Na capital, 60% dos moradores disseram ter sofrido ao menos um corte de água num período de 30 dias.
Para dirimir dúvidas, a Sabesp deve divulgar onde ficam os locais afetados, qual é a periodicidade das reduções e em que horários ocorrerão. Nada justifica a seca de informações que se abate sobre a população de São Paulo.