Luiz Fernando Vianna
As vidas de Chico e Adriana
RIO DE JANEIRO - Em seus novos livros, Chico Buarque e Adriana Falcão narram, com verniz literário, fatos fundamentais de suas vidas. São empreitadas corajosas, mas as obras resultam menores do que as histórias que as inspiraram.
O bastidor de "O Irmão Alemão" é espetacular: o jovem Chico, já reconhecido como um dos maiores compositores nacionais, sabe pelo grande poeta Manuel Bandeira que seu pai, o gigantesco historiador Sérgio Buarque de Holanda, tivera um filho na Alemanha em 1930 ""antes de formar sua família no Brasil. O menino pode até ter sido morto pelos nazistas.
Quatro décadas após a descoberta, Chico, agora talentoso romancista, resolve escrever sobre o caso. Em boa parte do livro, embaralha propositalmente invenção e biografia, realizando o que virou moda se chamar de "autoficção". Nas últimas páginas, empilha informações sobre a vida de Sergio Gunther, o irmão que --para melhorar tudo-- sobreviveu à guerra e se tornou cantor e compositor. E ainda faz uma nota sobre como foram as investigações na Alemanha. Troca a literatura pelo relatório.
Para um jornalista incapaz de produzir uma linha à altura das que Chico já escreveu, fica a dúvida comezinha: não teria sido melhor assumir a primeira pessoa real --não a do personagem Ciccio-- e narrar essa história maravilhosa sem as opções literárias que se tornaram percalços?
Adriana quase fez isso. "Queria Ver Você Feliz" não se pretende um romance. É, assumidamente, a história dos pais da autora, da paixão juvenil ao final trágico. Uma história fortíssima, quase toda contada pelas cartas trocadas por Caio e Maria Augusta. Mas por que Adriana se põe em terceira pessoa e adota um narrador etéreo e que soa bobo --o amor?
Há mais mistérios entre a vida e a literatura do que supõe o nosso vão jornalismo.