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Um alerta para Dilma
À primeira vista, manifesta-se uma contradição entre duas opiniões políticas apuradas em pesquisa Datafolha. De um lado, a boa e estável popularidade da presidente Dilma Rousseff. De outro, o grande contingente dos que a responsabilizam pela corrupção.
Nada menos que 85% dos brasileiros ouvidos em 173 municípios se dizem convencidos de que houve corrupção na Petrobras, o escândalo do momento. Pior: 68% consideram que a presidente tem responsabilidade sobre o caso.
Não há de ser confortável para o Planalto que a administração atual, do PT, perca só para a de Fernando Collor (1990-1992) como o governo com mais corrupção, opinião de respectivamente 20% e 29% dos entrevistados.
Apesar disso, 42% avaliam o governo Dilma como ótimo ou bom. É o mesmo índice que ostentava em 20 de outubro, pouco antes do segundo turno. Em aparência, a intensa divulgação de malfeitos na Petrobras ainda não foi suficiente para abalar seu prestígio.
É preciso buscar explicações para o paradoxo. A primeira ponderação a fazer é que 46% acreditam que nunca antes se investigou tanto a corrupção. E 40% dizem que em nenhum outro governo houve tanta punição para corruptos.
Os brasileiros reconhecem, parece, um avanço institucional na apuração dos desmandos. Só os petistas incapazes de livrar-se das viseiras deixarão de notar, contudo, que poucos atribuem tal progresso à própria presidente --ao contrário, 43% lhe conferem muita responsabilidade na corrupção.
Não que haja excesso de tolerância dos brasileiros com a ladroagem; mais provável é que predomine a gratidão pelos benefícios sociais prodigalizados nos 12 anos de governos petistas.
Persistindo a combinação de desemprego baixo e renda razoável com a percepção de que larápios estão indo para a cadeia, a ideia fixa da oposição com o tema reverberará só entre os já convertidos.
Dilma que se acautele, contudo, porque sua popularidade tem menos de capital que de restos a pagar. O cabedal se esvairá assim que os contribuintes começarem a sofrer o impacto das duras medidas que a má gestão em seu primeiro mandato tornou inadiáveis.