Painel do Leitor
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Comissão da Verdade
Diariamente, nos meios de comunicação, está lá a notícia a respeito das torturas aplicadas pelos militares. Isso aconteceu, mas não entendo por que remoer o passado ("Comissão admite vítimas que Estado negava até então", "Poder", 12/12). O que me preocupa é o futuro. Vamos pôr uma pedra em cima disso.
LUIZ MILTON DAMO (Uruguaiana, RS)
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Aos defensores do golpe militar, falta bom senso ao dizer que as Forças Armadas nos livraram do comunismo. O movimento era incipiente e jamais teria sucesso. Quantos prisioneiros foram feitos pelos que lutavam contra a ditadura e foram brutalmente torturados? As torturas foram unilaterais. Se os militares defendem que prisioneiros de guerra devem ser tratados de acordo com o Tratado de Genebra, por que não aplicaram essas regras aos presos políticos? Que essa marca negra na nossa história nunca se repita.
GIL MARCOS FERREIRA, professor (São Paulo, SP)
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Não acredito que o Brasil teria o desenvolvimento que teve (apesar das ações petistas) sem a participação de militares em governos anteriores. Não temos notícias de militares enriquecidos durante seu governo. Quanto aos políticos atuais, é só ler jornais.
JOSÉ CARLOS GOMES, professor universitário aposentado da Unesp (Botucatu, SP)
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Reações desqualificadoras do árduo e corajoso trabalho da Comissão da Verdade, como a de Reinaldo Azevedo ("Comissão Nacional da Farsa", "Poder", 12/12), são indicativas de como a sociedade brasileira ainda precisa melhor se conscientizar das diretrizes internacionais e universais dos direitos humanos e do despropósito da anistia aos crimes de lesa-humanidade cometidos na ditadura civil-militar, fundamentalmente orquestrados pelas Forças Armadas.
EDUARDO PINTO E SILVA, professor da UFSCar (São Carlos, SP)
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Sem retoques, Reinaldo Azevedo põe a nu o viés ideológico da Comissão da Verdade. Não se resgata a memória do país com narrativas seletivas, omitindo 120 assassinatos. Se as Forças Armadas devem reconhecer os fatos, o mesmo cabe aos acólitos de Cuba, da China e da Albânia, que se fazem passar por "heróis da resistência". Um blefe histórico.
CELSO L. P. MENDES (São Paulo, SP)
Crise da água
Dizer que a água é essencial à vida é chover no molhado. Em situações de míngua, governos que cobram multa para quem consome mais no fundo dão sinal verde para que os mais privilegiados consumam o quanto quiserem do recurso hídrico, que deveria ser equanimemente compartilhado ("Alckmin troca, de novo, comando da crise da água em SP", "Cotidiano" 12/12).
ARTUR MENDES (Campinas, SP)
Escândalo na Petrobras
Parabéns ao Ministério Público Federal por sua atuação exemplar na Operação Lava Jato ("Procuradoria denuncia 36 e pede devolução de R$ 1,5 bi", "Poder", 12/12). São um alento aos cidadãos honestos deste país as denúncias formais contra os executivos das poderosas empreiteiras nacionais que movimentavam este grande esquema de corrupção. O nosso lamento é que os parlamentares governistas tenham feito mais uma CPI, a da Petrobras, não dar em nada ("Relatório final de CPI sobre estatal não pede punições", "Poder", 11/12).
YURI AKICH ROSA DA SILVA (Indaiatuba, SP)
Bernardo Mello Franco
O artigo "Perdas e ganhos" ("Opinião", 12/12), de Bernardo Mello Franco, faz contraponto entre as trajetórias do senador Pedro Simon (PMDB) e do deputado André Vargas (ex-PT). Simon, após longa trajetória política, não foi reconduzido pelo voto, mas teve uma bela e coerente vida. André Vargas, um recém-chegado à Câmara dos Deputados, fascinado com as benesses do poder, foi defenestrado por seus pares como boi de piranha por quebra do decoro parlamentar. Um engrandecia o Parlamento, o outro, o envergonhava.
LUIZ THADEU NUNES E SILVA (São Luís, MA)
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Ao contrário de Bernardo Mello Franco, que considera Pedro Simon o político mais ético da atualidade, não creio que o veterano senador desfalcará o Congresso. O combate à corrupção não é privilégio de Pedro Simon. Centenas de outros parlamentares costumam repudiá-la com energia. A diferença é que também têm tempo para trabalhar.
VICENTE LIMONGI NETTO (Brasília, DF)
RESPOSTA DO COLUNISTA BERNARDO MELLO FRANCO - Não escrevi que Pedro Simon é "o político mais ético da atualidade", como afirma o leitor. Apenas constatei que ele está entre os parlamentares mais respeitados, o que pode ser verificado nas listas anuais do site Congresso em Foco e do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).
Betabloqueadores
Os betabloqueadores, do modo como foram considerados em "A Química da Ansiedade" ("Equilíbrio", 10/12), correm o risco de serem vistos como vilões nos tratamentos psiquiátricos. Não o são. Mas há que se ter cautela, sempre, com o nosso péssimo hábito da automedicação e com os seus efeitos adversos. Nada foi perguntado aos entrevistados das contraindicações e efeitos colaterais dos antidepressivos e dos perigosos ansiolíticos. Todos os tratamentos sintomáticos têm benefícios fugazes e, muitas vezes, são a única conduta paliativa que pode ser alcançada. E mais: pouquíssimos brasileiros têm acesso a tratamentos etiológicos.
ELKO PERISSINOTTI, vice-diretor do Hospital-Dia do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP (São Paulo, SP)