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Dilema para Maduro
A economia da Venezuela vai mal, não é de hoje, mas os sinais de derretimento das finanças se tornaram ainda mais inequívocos com a queda dos preços internacionais do petróleo.
O país exibe uma das maiores taxas de inflação do mundo, que deve fechar o ano entre 80% e 85%. O PIB deverá cair 3% neste ano, segundo o Fundo Monetário Internacional, mas alguns analistas já falam em até 10%.
O dólar, cotado a 6,3 bolívares no câmbio oficial, no mercado paralelo alcançou 183 bolívares. As reservas internacionais estão no nível mais baixo nos últimos dez anos.
O efeito visível dessa crise para os venezuelanos é a escassez de um em cada quatro produtos básicos. Não surpreende, assim, que a corrosão da popularidade de Nicolás Maduro acompanhe a dos indicadores econômicos de seu país. O presidente enfrenta a desaprovação recorde de 75% da população.
Esses desequilíbrios econômicos foram, evidentemente, agravados pela baixa de cerca de 40% no valor do petróleo. Não poderia ser de outra maneira, uma vez que o hidrocarboneto é responsável por aproximadamente 95% das exportações do país vizinho.
Para enfrentar essa tempestade de problemas, Maduro baixou uma série de decretos com aumentos de impostos sobre artigos de luxo e bebidas alcoólicas. Tais medidas, naturalmente, não serão suficientes para lidar com a crise.
Há pressões nas próprias fileiras chavistas para que o presidente altere a estratégia e recorra à ortodoxia econômica para corrigir as contas do país no próximo ano.
Isso incluiria a adoção de providências impopulares, como um profundo ajuste fiscal. Entre outras coisas, desvalorizar a irreal taxa de câmbio e aumentar o preço irrisório da gasolina. Hoje, encher o tanque de um automóvel na Venezuela custa menos de um dólar.
Apesar da conturbação financeira, economistas do país dizem que o governo tem em mãos instrumentos para ao menos amenizar o impacto da queda no preço do petróleo. A perda dessa receita, dizem, poderia ser em parte compensada com os ajustes na moeda e no preço doméstico dos combustíveis.
Para que isso ocorra, entretanto, Maduro precisará de muito mais pragmatismo, em 2015, do que tem sido capaz de demonstrar em seus quase dois anos como presidente.