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"Hasta la vista, baby"
Para uma corrente de respeitáveis cientistas, entre os quais despontou o físico Stephen Hawking, o desenvolvimento de uma inteligência artificial completa poderá resultar na destruição da raça humana. Para outra, liderada pelo tecnólogo Ray Kurzweil, tal advento significará o fim da maioria de nossos problemas. Quem tem razão?
Envolvendo fenômenos extremamente complexos --tecnologia e inteligência--, a discussão se envolve em tantas incertezas que, em tese, os dois lados podem estar certos.
Tome-se o desenvolvimento tecnológico. Quanto mais avanços houver, mais abrangentes serão as soluções, mas também serão maiores os riscos subjacentes.
A rede elétrica constitui bom exemplo. A energia poupa uma quantidade inimaginável de trabalho e permite todo o conforto representado por aparelhos como ar-condicionado, geladeiras etc.
Os sistemas de geração, porém, jamais estarão livres de falhas. De vez em quando, mesmo países desenvolvidos enfrentam blecautes. Além disso, no longo prazo são inevitáveis colapsos mais duradouros provocados por eventos extremos.
Como as tecnologias se interligam em várias camadas, a pane se alastra para todos os mecanismos alimentados por eletricidade.
À medida em que as máquinas forem se tornando mais inteligentes, será natural que recebam um número cada vez maior de tarefas, o que tenderá a aumentar a interdependência dos sistemas. Também aumentará, todavia, a vulnerabilidade a eventos extremos.
A ameaça maior, entretanto, estaria contida na possibilidade de as máquinas decidirem se livrar dos humanos. Esse raciocínio tem dois pressupostos não comprovados.
O primeiro é o de que a evolução da inteligência leva inexoravelmente a uma consciência. Esta, se de fato resultar de processos físicos que ocorrem no cérebro, em tese poderia ser replicada em circuitos de computador. Contudo, não existe certeza quanto a isso e não se chegou nem perto de reproduzir tal fenômeno.
Aliás, mesmo que computadores desenvolvam consciência, eles poderiam se guiar por padrões diferentes dos humanos --sendo, por exemplo, muito mais (ou muito menos) cooperativos do que nós.
O segundo pressuposto é o de que o livre-arbítrio existe --necessário para a máquina tomar a decisão de partir ao ataque. No entanto, experimentos recentes sugerem que essa noção é ilusória.
Ou seja, ao menos por enquanto, a batalha das máquinas contra os seres humanos ainda se restringe ao reino da ficção científica.