Armando Perez Maria
TENDÊNCIAS/DEBATES
Clubes e prefeitura a caminho de uma solução
Os clubes paulistanos de lazer não querem privilégios. Só aguardam uma solução para que se estabeleçam valores justos e razoáveis
Em 1903, o prefeito Antônio Prado teve a ideia de dar à cidade uma alternativa de lazer e de prática esportiva. Ofereceu a vários clubes a oportunidade de se transferirem para as margens do rio Tietê, que, na época, tinha águas limpas que permitiam as atividades aquáticas.
No livro "Tiete: O Rio do Esporte" (Phorte Editora), Henrique Nicolini nos dá uma clara noção da importância que essa decisão trouxe para a cidade de São Paulo. Outro ponto que motivou essa escolha foi resolver o problema sanitário com os mosquitos das várzeas do rio, que causavam doenças como febre amarela e malária.
A partir desses entendimentos, o Clube Esperia, fundado em 1899, localizado na margem esquerda do rio, transferiu-se, em 1903, para o local atual, na margem direita.
Em 1968, o prefeito José Vicente Faria Lima promoveu uma desapropriação para a construção das marginais e cedeu a nova área como compensação pelas benfeitorias existentes. Ou seja, a situação atual teve como base políticas públicas consideradas corretas na época.
Após mais de dez anos de intensas negociações, na gestão de Gilberto Kassab (2006-2012), os clubes apresentaram uma proposta de remuneração à prefeitura, que viria a substituir as chamadas contrapartidas sociais que os clubes oferecem à cidade de São Paulo.
Essa proposta foi discutida exaustivamente na prefeitura com as secretarias de Gestão e de Negócios Jurídicos, com a Câmara Municipal e com o Ministério Público Estadual, e foi base de um projeto de lei, encaminhado ao Legislativo em 2012, no qual todos os clubes passariam a ter uma contrapartida onerosa. Esses recursos passariam a compor o Fundo Municipal do Meio Ambiente. Houve, enfim, consenso.
No início da gestão do prefeito Fernando Haddad, esse projeto foi retirado da Câmara Municipal, em fevereiro de 2013, com o compromisso de ser reapresentado e ter recursos destinados ao Fundo Municipal de Esportes.
Nos dois últimos anos mantivemos inúmeras reuniões com o próprio prefeito Haddad, com secretários e com vereadores, buscando uma solução para a regularização das áreas públicas e a prefeitura estuda cobrar contrapartida financeira equivalente ao valor do IPTU pelo uso dessas áreas.
Somos um clube com mais de 8.000 associados, 240 funcionários, desenvolvendo mais de 30 modalidades esportivas e culturais e ações assistenciais, com uma infraestrutura moderna toda construída com recursos dos nossos associados.
Em 2014, promovemos contrapartidas à cidade como a cessão de 21 datas para a realização de eventos esportivos de escolas municipais, recebendo mais de 6.000 alunos, jogos de idosos e competições de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, todos promovidos por órgãos municipais. Houve também cessão de espaços para a realização de 21 eventos beneficentes.
Mantemos mais de 100 não associados formados em várias modalidades esportivas, e para 2015 receberemos mais de 400 jovens que passarão por um programa de formação esportiva. Todos serão selecionados em escolas municipais.
Aguardamos uma solução definitiva que estabeleça valores justos e razoáveis. Não pretendemos privilégios, pois entendemos que existem carências maiores em uma cidade como São Paulo.