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Fraturas no xisto
A extração de óleo e gás de folhelho --rocha betuminosa conhecida no Brasil como xisto-- propeliu uma reviravolta no cenário energético dos Estados Unidos. Graças à controversa fonte não convencional, em 2009 o país saiu da condição de importador para a de exportador de petróleo.
Surgem algumas fissuras, no entanto, no panorama otimista. Uma manobra da Arábia Saudita lançou na defensiva seus concorrentes e pôs em xeque o entusiasmo de outros países com a chance de replicar a história de sucesso.
Os combustíveis são extraídos do folhelho com a técnica de fratura hidráulica ("fracking", em inglês). Perfurações horizontais permitem injetar fluidos sob pressão, que rompem as lâminas da rocha e liberam o óleo ou o gás. O processo consome muita água e energia, além de exigir a abertura de vários poços, o que o encarece.
Os preços do petróleo acima de cem dólares por barril sustentaram a bonança do xisto nos Estados de Dakota do Norte, Montana e Texas. Do gás natural dos EUA, 16% já têm essa origem.
Em novembro, porém, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), liderada pelos sauditas, decidiu manter os níveis de produção de seus membros e, assim, jogar os preços internacionais da commodity para o piso de US$ 50 por barril (ora em torno de US$ 60). Tal remuneração é insuficiente para cobrir custos de extração em boa parte dos campos.
Uma onda de cortes se seguiu. Shell e Chevron anunciaram reduções de gastos de US$ 50 bilhões. Empresas terceirizadas de perfuração estão demitindo pelo menos 14 mil trabalhadores. Ainda neste ano a produção deve cair, pela primeira vez em quatro anos.
Não é a derrocada final da indústria do xisto. A baixa dos preços não pode ser mantida indefinidamente; os próprios membros da Opep sofrem com a medida.
Por ora, no entanto, mostra-se suficiente para alijar competidores e tornar o mundo um pouco mais dependente da organização.
Saem prejudicados projetos ambiciosos em outros países com jazidas significativas, como a Argentina (segunda maior reserva de gás e quarta de óleo de xisto), com seu campo de Vaca Muerta.
O Brasil aparece no décimo lugar do ranking de gás, mas recentes licitações da Agência Nacional de Petróleo para explorar o recurso foram suspensas pela Justiça. O pedido partiu do Ministério Público Federal, que se preocupa com os danos ambientais do "fracking", tecnologia banida em alguns países e até em Estados americanos.