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Não existe sacola grátis
Faz tempo que, nas grandes cidades, a destinação dos resíduos sólidos se tornou um tema não apenas sanitário mas também logístico. A partir de meados do século passado, com a popularização das embalagens plásticas, o problema se tornou intergeracional, já que alguns desses materiais levam centenas de anos para se decompor.
Dificilmente haverá solução única para essa questão, mas iniciativas pontuais, se somadas, podem fazer alguma diferença. Uma delas é a nova regra de utilização de sacolas plásticas --uma parte pequena do todo, mas, ainda assim, uma parte-- que a prefeitura está implementando em São Paulo.
Como não poderia deixar de ser, a medida busca inibir o uso dos invólucros, e a forma escolhida para alcançar esse fim tem razão de ser.
Após batalhas judiciais e muita negociação, optou-se por substituir as sacolinhas tradicionais, que eram distribuídas gratuitamente, por um modelo padronizado.
O comércio, sob pena de multa, agora só pode fornecer embalagens maiores e mais reforçadas, que o consumidor poderá reutilizar na destinação do lixo doméstico. As verdes dirigem-se exclusivamente a resíduos recicláveis (coleta seletiva); as cinzas, a lixo inespecífico. A inobservância da regra pode gerar multa para o munícipe.
Tem provocado certo desconforto na população, porém, não tanto as normas de descarte, mas o fato de que, como as novas sacolas são mais caras, mercados passaram a cobrar por elas. Os preços flutuam em torno de R$ 0,08 por unidade.
Segundo pesquisa Datafolha, 80% dos paulistanos são contra o consumidor ter de pagar pelos invólucros; 79% acham que o custo deveria ser bancado pela prefeitura; e apenas 17% se dizem dispostos a comprar as novas sacolas.
Tudo leva a crer que esse quadro se delineia sobre um pressuposto falso: o de que as antigas sacolinhas eram gratuitas. "Grátis" é um fenômeno que, se existe na natureza, mostra-se bastante raro.
O custo da distribuição das embalagens sempre existiu e sempre foi pago pelos consumidores. Vinha, entretanto, embutido nos preços dos produtos comprados.
A maior transparência do novo sistema, além de produzir mais justiça (clientes que usavam sacolas retornáveis pagavam o que não deviam), talvez constitua a parte mais importante dessa estratégia de redução do descarte de plásticos.
Com os custos explícitos, isto é, quando o consumidor sente no bolso o peso de suas ações, os resultados se tornam mais palpáveis.