David Uip e Marcos Boulos
TENDÊNCIAS/DEBATES
Dengue e a responsabilidade de cada um
Os paulistas não estiveram massivamente expostos a esse tipo de vírus. É por isso que há o grande número de pessoas suscetíveis à doença
São Paulo, diferentemente da maior parte dos outros Estados, esteve livre de transmissões consistentes de dengue até cinco anos atrás, quando o aumento da infestação pelo mosquito Aedes aegypti, inicialmente nas regiões norte e noroeste do Estado, possibilitou o surgimento de grande número de casos.
Neste momento em que grande parte dos municípios paulistas enfrenta os desafios de controlar casos e evitar novas mortes surgem questões cujas respostas valem a pena serem destacadas.
O habitat do Aedes aegypti é dentro de nossas casas. Ele vive em contato com o homem para garantir a manutenção da espécie. No verão, com o calor e as chuvas, surgem muitos criadouros. Uma pequena tampa de garrafa jogada no ambiente pode se tornar um confortável berçário para novos mosquitos.
Estudos da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) apontam que 80% dos criadouros estão dentro de casa. Mesmo que os serviços de controle de vetor dos municípios e do Estado entrem em ação ao mesmo tempo, atingirão no máximo 20% dos focos, justamente os que não são os mais importantes.
Debelar 100% dos focos seria hipoteticamente possível se houvesse uma operação de guerra com o poder público agindo dentro de todas as casas dos centros urbanos infestados. E isso antes de o ciclo começar, quando as pessoas ainda não estão doentes e participando da cadeia de transmissão.
Predomina, atualmente, no Estado de São Paulo a circulação do sorotipo 1 da dengue. Esse vírus foi de extensa disseminação na maioria dos Estados brasileiros desde a década de 1980, quando a doença não existia em São Paulo.
A maioria das pessoas em boa parte do país já teve contato com esse vírus estando, portanto, imunes a ele. Já a população paulista não esteve massivamente exposta a esse vírus e, por essa razão, concentra grande número de pessoas suscetíveis. Essa é uma das razões para a intensa transmissão em 2015.
Em toda epidemia dois fatores estão entre os mais eficazes para minimizar sua abrangência: a existência de vacinas e tratamento específico (medicamento antiviral) em tempo oportuno. A dengue não conta, por enquanto, com nenhum desses dois fatores a seu favor. Diante disso, as medidas adotadas pela saúde pública são voltadas para a redução de danos.
Diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais para evitar mortes. Esse tem sido o enfoque dos alertas que trabalhamos junto à população e profissionais de saúde.
Para auxiliar os municípios paulistas no enfrentamento da dengue, especialmente aqueles que estão em maior dificuldade, o Estado de São Paulo está dobrando seu efetivo da Sucen para ações de nebulização e adquirindo novos equipamentos, além de contar com apoio de 30 médicos da Polícia Militar.
O investimento extra é de R$ 6 milhões. O Estado também firmou parceria com empresas e instituições para disseminar o alerta à população sobre transmissão da dengue, prevenção e sintomas.
O combate à dengue exige ações articuladas e complementares das três esferas de governo. A Secretaria de Estado da Saúde está com seu corpo técnico do Centro de Vigilância Epidemiológica, Instituto Adolfo Lutz e Sucen em campo, auxiliando os municípios.
Internamente, especialistas da USP, Unesp e Unifesp discutem as especificidades do atual cenário.
Momentos como esse devem servir de aprendizado para que todos os gestores da saúde possam aperfeiçoar as medidas preventivas e a assistência à população e para que todos os cidadãos se conscientizem da responsabilidade de cada um com o ambiente domiciliar para que doenças sejam evitadas.