América pragmática
A histórica reunião entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o ditador cubano, Raúl Castro, deu tom pragmático à Cúpula das Américas, encerrada no fim de semana, no Panamá.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, bem que tentou inocular no encontro a desgastada retórica anti-imperialista, mas Obama e Raúl prosseguiram com os gestos de reaproximação entre seus dois países, iniciada há dois anos por meio de negociações secretas.
Encerrou-se, assim, um hiato de 54 anos sem encontros bilaterais.
A normalização das relações, no entanto, continua incerta. A reabertura das embaixadas --principal medida anunciada em dezembro pelos dois mandatários-- não avança porque Cuba rejeita a exigência norte-americana de que seus diplomatas tenham plena liberdade para circular na ilha.
Além disso, os EUA ainda não cumpriram a promessa de retirar Cuba da lista das nações que patrocinam o terrorismo, o que mantém o país praticamente isolado do sistema financeiro internacional. Embora a Casa Branca tenha tomado iniciativa com esse fim, a medida depende de aprovação do Congresso, dominado pela oposição.
Também se sujeita ao Legislativo a anulação do emaranhado de leis que formam o embargo econômico à ilha. Mantendo relação tumultuada com a maioria republicana, Obama dificilmente conseguirá derrubar o anacrônico mecanismo até o fim de seu mandato.
É improvável, de todo modo, que o próximo ocupante da Casa Branca se disponha a reverter as iniciativas de reaproximação. As críticas ao embargo, que fracassou no objetivo de derrubar a ditadura cubana, são unânimes na região.
Não deixa de ser curioso que atores identificados com a esquerda, mais que a própria direita americana, rendam-se ao pragmatismo econômico. Com a crise da Venezuela, que substituiu o papel de provedor outrora exercido pela União Soviética, o governo dos Castro precisou ceder.
Guardadas as diferenças, o mesmo vale para quase todos os demais países latino-americanos, aparentemente dispostos a modernizar sua relação com a maior economia do mundo. A Venezuela, com sua retórica mofada, fica a cada dia mais isolada.
A 7ª Cúpula das Américas marcou um avanço em relação aos encontros anteriores, depreciados por disputas ideológicas. Minimizado esse entrave, o desafio será aprimorar a cooperação entre os países para pressionar os regimes de Cuba e da Venezuela a atuar dentro dos marcos da democracia.