Melhor, mas nem tanto
FMI estima que economia global crescerá mais neste ano, mas países emergentes, como o Brasil, ainda não devem mostrar recuperação
Otimismo cauteloso talvez seja o resumo do último encontro do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ocorrido na semana passada em Washington, o evento semestral reuniu autoridades, acadêmicos e executivos para debates sobre as tendências econômicas globais.
Há certa confiança de que a economia mundial crescerá mais neste ano, mas preocupa que tal dinamismo se concentre em poucos países, especialmente nos EUA. Entre os principais emergentes, somente a Índia deve ter desempenho melhor na comparação com 2014.
A falta de sincronia traz riscos, como o aumento da instabilidade cambial. Na medida em que o PIB dos EUA avança, aproxima-se o momento em que seu banco central (o Fed) precisará elevar os juros.
Os mercados financeiros antecipam esse movimento e deslocam recursos para os EUA, com o que revigoram o dólar. Um processo salutar, em certa medida: a economia mais sólida tem sua moeda reforçada, o que beneficia as exportações de seus parceiros comerciais.
A partir de determinado ponto, entretanto, uma valorização rápida demais do dólar pode dificultar a própria recuperação dos EUA. Se o motor americano falhar, o cenário mundial ficará mais conturbado.
Na zona do euro, parece ter-se iniciado uma tímida retomada --o FMI espera crescimento de 1,5% em 2015, evolução pequena em relação ao 0,9% do ano passado.
Por outro lado, persiste o problema da Grécia, ainda pressionada por dívidas excessivas e instabilidade econômica. A falta de acordo entre o governo e seus credores mantém viva a chance de um calote, que poderia ter impactos deletérios sobre toda a zona do euro.
Entre os emergentes, há preocupação com a redução do crescimento em muitos países. Na China, a economia surpreende negativamente, embora ainda deva se expandir ao menos 6,5% neste ano. O problema é o excesso de dívidas criadas para sustentar o ciclo de investimentos da década passada. Os débitos atingem 280% do PIB, cerca de 30% a mais que em 2008.
O governo chinês procura reformar a economia e reduzir o ritmo de alta do crédito sem provocar recessão. Tem tido relativo sucesso, mas a ressaca, ao que parece, ainda está longe de acabar.
Não se vislumbra, por isso, reversão na tendência de queda do preço das matérias-primas, fenômeno que contribui para reduzir o ritmo da maioria dos países exportadores --Brasil entre eles.
O caso brasileiro, aliás, não destoa no quadro geral de cautela. A boa notícia é que foi bem recebido o compromisso do governo de consertar as contas públicas e resgatar a agenda de investimentos em infraestrutura. Mas o FMI projeta crescimento abaixo de 2,5% ao ano até o final da década.