Carlos Heitor Cony
Do impeachment, ainda
RIO DE JANEIRO - Já comentei, diversas vezes, a questão que está em questão (não tenho nada contra os pleonasmos), ou seja, a possibilidade de um impeachment para a presidente Dilma Rousseff. Alguns pesos-pesados da política e da mídia já se manifestaram a favor ou contra. Que existe aquilo que os penalistas chamam de "materialidade", existe até demais.
Infelizmente, a presidente cometeu ou deixou que outros cometessem, diversos malfeitos, que nem precisam ser mencionados. Basta o último escândalo, que nem chega a ser um malfeito mas tem tudo o que caracteriza um crime. Ela ocupou o ministério ao qual está subordinada a Petrobras. Foi chefe da Casa Civil, prestigiada pelo ex-presidente Lula, do qual foi sucessora, embora comparada a um poste que seria eleito pela força de seu padrinho.
Não houve qualquer descontinuidade em seu poder, desde que teve responsabilidade maior sobre o que ocorria naquela estatal, até a Presidência da República, quando sua responsabilidade tornou-se maior. Tampouco se sentiu constrangida de ser influente no partido que tem dois ex-tesoureiros atrás das grades, partido que a lançou duas vezes à chefia do governo e a apoia histericamente, apesar da voz, ou melhor, dos gritos das ruas que a impedem de participar dos eventos e cerimônias públicas. Pergunta: como dona Dilma reagiria a uma vaia colossal no estádio do maracanã na Olimpíada.
Repito o que já escrevi na semana passada. O impeachment deve ser discutido, mas não ao ponto de se negar uma investigação isenta e honesta, sem pressões de quem quer seja, da mídia, dos militares, dos políticos, de Deus ou do diabo.
Tal investigação, isenta e honesta, é necessária para tranquilizar a nação e a própria presidente. Do contrário, o impedimento de dona Dilma será um golpe indecente e até mesmo um crime que o Brasil não merece.