Paliativos e curas
O programa Mais Médicos do governo Dilma Rousseff (PT) em pouco tempo agregou mais de 14 mil profissionais ao sistema de saúde. Um feito, mas ainda insuficiente para preencher todos os postos vagos na assistência básica e erradicar as persistentes filas de espera.
Como era sabido, tratava-se de paliativo. A cura verdadeira virá apenas quando o Brasil for capaz de formar profissionais em número bastante para saltar do patamar de 2 para no mínimo 2,5 médicos por mil habitantes, a meta da administração federal --para nada dizer do renitente problema da má distribuição pelo território nacional.
Médicos de boa qualidade, bem entendido. É grande a insatisfação no meio, porém, com a formação oferecida aos alunos de medicina.
Apesar dos seis anos de estudo intensivo, grande parte deixa a faculdade com escassas condições de exercer uma profissão que implica risco para terceiros --situação debatida no 2º Fórum a Saúde do Brasil, promovido por esta Folha.
Uma evidência da formação deficiente aparece nos resultados do exame obrigatório do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). A cada ano, mais da metade dos formandos se mostra incapaz de resolver ao menos 60% de uma prova básica.
O cenário parece mais preocupante nas escolas particulares. Nada menos que 65% de seus estudantes foram reprovados em 2014. Nas faculdades públicas, o índice é de 33%, nem por isso tranquilizador.
Os pacientes, obviamente, são os que mais sofrem com os eventuais efeitos da formação deficiente. Por outro lado, se muitos formandos forem impedidos de exercer o ofício, essas pessoas ficarão sem nenhum atendimento, o que sempre será pior do que receber alguma atenção médica.
Atualmente, em razão de limitações legais, um desempenho mínimo no exame do Cremesp não pode ser exigido como precondição para conceder o diploma ou o registro profissional.
Uma alternativa a essa prova terminante seria avaliar os estudantes de medicina de maneira padronizada várias vezes ao longo do curso, como defendem o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Educação Médica. A saúde alheia é coisa séria demais para ser relegada ao arbítrio de proprietários ou diretores das faculdades.
Prevenir é sempre melhor que remediar. Ao diagnosticar cedo as falhas na formação, torna-se possível exigir correções de rumo no ensino que permitam continuar formando não apenas mais mas também melhores médicos no país.