Marco Aurélio Canônico
Segurança patrocinada
RIO DE JANEIRO - Sem muito alarde ou maiores detalhes, o secretário de Segurança do Rio anunciou, há uma semana, que o Estado estava fechando parcerias com empresários para financiar com dinheiro privado ações públicas de policiamento.
A ideia surge, não por acaso, num momento em que as limitações do orçamento da Segurança colocam o Rio em um clima que lembra o dos anos 1990, com o tráfico retomando o espaço em morros e uma série de roubos de rua em bairros da capital.
Segundo o que o secretário disse à imprensa, na primeira parceria a ser concretizada empresários darão R$ 450 mil para a construção de duas bases policiais na Lagoa e doarão bicicletas, armas não letais e outros equipamentos à PM.
A lógica por trás da escolha do bairro, um dos mais ricos e turísticos do Rio, não foi apresentada, mas é difícil não notar um dos potenciais problemas da ideia: quem paga quer policiamento em sua porta, mesmo que não seja o local mais carente de segurança.
Outra parceria anunciada parece ainda mais problemática: a doação de smartphones para que agentes das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) gravem seus patrulhamentos nas favelas.
Não há dúvida sobre a importância do registro das abordagens policiais, especialmente em locais onde elas rotineiramente acabam mal.
Justamente por isso foi criada em 2009 uma lei que obriga a instalação de câmeras em todos os carros de polícia e que, se tivesse sido cumprida, dispensaria o Estado de adotar uma solução intermediária e que depende de dinheiro privado.
Mais do que isso: deixar as câmeras de vídeo sob controle de policiais não parece sensato nem para o agente público --como se defender e gravar ao mesmo tempo?-- nem para o cidadão, cuja narrativa ficaria sujeita ao diretor com uma arma na mão e uma ideia na cabeça.