Tragédia grega
Se não chegar a um acordo com seus credores nos próximos dias, a Grécia interromperá o pagamento de sua dívida externa. Os últimos meses de negociação conflituosa e infrutífera não recomendam prognósticos otimistas sobre esse caso.
Os vencimentos pesados de débitos ocorrem nas próximas semanas. Em 30 de junho, o país deverá pagar € 1,6 bilhão ao FMI; em julho e agosto, mais € 6,7 bilhões para o Banco Central Europeu (BCE). Se não o fizer, estará em moratória.
A consequência será a suspensão do acesso dos bancos gregos a empréstimos do BCE, com o que tais instituições não conseguirão honrar os saques de seus clientes. O governo se veria então obrigado a impor limites e até a proibir a saída de capitais do país.
O que vem depois é uma incógnita. Em tese, o corte do acesso ao BCE e os controles de capitais aprofundarão a recessão e o deficit do governo, que não conseguirá mais quitar salários e pensões em euros. O passo seguinte seria o pagamento em outros tipos de papéis desvalorizados, que circulariam no lugar dos euros.
Na prática, a Grécia estaria a caminho da saída da zona do euro. Ocorre, contudo, que não há previsão legal para isso nos tratados que lastreiam a moeda única.
Como alternativa, a Grécia pode aceitar o acordo proposto pelos europeus, já que a maioria de sua população quer permanecer na moeda única. Nesse caso, o caminho seria uma troca de governo, com novas eleições.
O impasse de agora contrasta com os primeiros momentos após a chegada do Syriza ao poder, em janeiro deste ano. Naquela ocasião, havia suficiente compreensão de que o país precisava de um perdão de dívida, desde que viessem em troca reformas estruturais.
As negociações, porém, não avançaram. De um lado, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, imaginava que o temor da moratória levaria os credores a fazer grandes concessões --o que não ocorreu.
De outro, os credores esperavam que Tsipras abandonaria promessas de campanha, entre as quais figuravam auxílio estatal aos mais pobres e reversão de privatizações --o que tampouco ocorreu.
Se não sobrevier uma solução e a Grécia de fato abandonar a zona do euro, a união monetária perderá a aura de inexorável, e seu principal fiador, o Banco Central Europeu, terá fracassado abertamente.